quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A Síria será o principal tema da agenda do novo presidente americano

[Traduzo a seguir um texto de Carol Morello publicado pelo The Washington Post. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. Atentar para o fato de que o texto foi publicado antes do segundo debate entre Hillary e Trump.]

A guerra na Síria não tem sido muito discutida, mesmo antes das notícias sobre os comentários de Donald Trump sobre mulheres e sobre os emails e palestras de Hillary Clinton para banqueiros. Mas, para quem quer que se eleja presidente a Síria e as sequelas do inacreditavelmente complexo conflito que começou há cinco anos presumivelmente estarão no topo dos desafios de política externa da nova administração. [Ver: "Síria, o abismo do mundo".]

Enquanto a guerra se desenrolar com grande intensidade, refugiados sírios buscarão asilo. Nos últimos 12 meses, 12.500 refugiados sírios vieram para os Estados Unidos. Hillary propôs admitir 65.000 mais ao longo do próximo ano. Trump os comparou a um cavalo de Troia e disse que mandaria de volta os que já estão no país.

Campanha 2016 (EUA) - Número de refugiados em todo o mundo - inclui pessoas em condições similares às dos refugiados, ao longo do final de 2015 [M = milhão(ões) - k = mil] - 5 principais países: Turquia/Paquistão/Líbano/Irã/Etiópia - Total mundial: 16,1 milhões [mais que a população da Bahia e quase a população do Estado do Rio de Janeiro]

Mas, não há boas opções para acabar com o derrame de sangue e a guerra. O presidente Obama rejeitou um envolvimento militar além dos ataques aéreos da coalizão liderada pelos EUA.

Trump diz que tem um plano para eliminar os militantes do Estado Islâmico que criaram um califado, mas que é secreto porque não quer divulgar suas intenções além de prometer "bombardeá-los ao extremo". Ele disse que cooperaria com a Rússia, que tem apoiado fortemente o presidente sírio Bashar al-Assad. Trump disse que Assad é "ruim", mas os EUA têm "problemas maiores que Assad". Embora na campanha tenha se posicionado contra o envolvimento [americano] em guerras no exterior como no Iraque, Trump disse no passado que poderia se dispor a envolver tropas de terra para lutar contra o Estado Islâmico -- o número tem variado.

Durante o debate dos candidatos à vice-presidência, Mike Pence [vice na chapa de  Trump] defendeu a criação de "zonas de segurança" para civis. Disse que as provocações dos aviões russos voando sobre a Síria devem ser enfrentadas com "poderio americano", e os EUA devem estar preparados para usar de força militar contra o poderio militar de Assad para interromper seus ataques contra a cidade de Aleppo.

Hillary Clinton, uma ex-Secretária de Estado, tem defendido quase a mesma atitude no combate ao Estado Islâmico: uma zona interditada a sobrevoos para prover um abrigo humanitário para a população civil e interromper a onda de refugiados rumo  à Europa, cooperação com os aliados e possivelmente usar a força militar americana para interromper o bombardeio de civis pelo governo sírio. Ela se opôs ao envio de tropas terrestres, mas intensificaria a campanha de ataques aéreos por uma coalizão liderada pelos EUA.

No momento em que qualquer dos candidatos entrar no Salão Oval, a avaliação de hoje pode ser questionável ou irrelevante. Tentativas de cessar-fogo falharam. Tentativas de cooperação com Moscou desmoronaram em grande parte. O governo sírio, com apoio russo, está transformando Aleppo em escombros, e o  enviado da ONU à Síria alertou que a cidade pode estar completamente destruída no Natal.

[O texto acima evidencia a superficialidade com que o drama sírio é tratado, apesar de seus cinco anos de existência e seus mais de 400 mil mortos (incluindo civis e crianças) e os milhões de refugiados que gerou. Ninguém se questiona por ter deixado isso se prolongar e se agravar dessa maneira. Os americanos usam o argumento de não terem tropas terrestres na Síria como uma espécie de bônus que lhes permite fazer o que quiserem por via aérea. Para eles, a "provocação" é a presença de caças russos no mesmo espaço aéreo, e não o genocídio que a aviação e as tropas de Bashar al-Assad (com e sem apoio russo) fazem em terra.

Os EUA insistem em pintar a Rússia como única potência vilã nessa guerra civil nefasta, esquecendo-se de que eles também matam civis inocentes com ataques aéreos liderados por eles.

A Síria é uma demonstração clara, inequívoca e contundente da hipocrisia e da falta de disposição absoluta da ONU e das grandes potências de atuação na Síria, primeiro não evitando a guerra civil, segundo por não terminá-la. Ver também "Síria, o abismo do mundo".] 



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