sábado, 30 de maio de 2015

Reconhecida especialista em grandes negócios no atacado, Câmara dos Deputados planeja partir agora também para o varejo com um shopping em suas instalações

Concebida para ser uma instituição exemplar, como parte essencial de um dos poderes da República, a Câmara dos Deputados desvirtuou-se por completo e se transformou em um imenso balcão de negócios e mutretas. A Casa é um gigantesco arquipélago humano, com 513 ilhotas em que vicejam todas as grandezas e baixarias do ser humano, não fosse ela um enorme arco da sociedade. Os currículos de inúmeros desses cidadãos são verdadeiras folhas corridas, que servem de referências para qualquer estudante de Direito que queira se enfronhar nos múltiplos aspectos e traços dos mais diversos tipos de crimes. Nem a Lei da Ficha Limpa solucionou esse problema, pois vários deputados de currículo imundo se prevalecem do foro privilegiado a que têm direito e da lerdeza paquidérmica da nossa Justiça para julgar recursos.

Até aí morreu Neves. O xis do problema é que a Câmara se distingue muito mais pelos malfeitos e pilantragens do que pela decência. Quem entrar no site Rede de Escândalos irá se fartar (no sentido mais amplo da palavra) com a quantidade e a variedade de escândalos envolvendo políticos em geral, em sua esmagadora maioria deputados. Embora com expressivo destaque nos últimos 12,5 anos, os malfeitos de políticos e deputados ocorrem e se repetem desde priscas eras. Nesse site você pode escolher o tipo de escândalo e/ou nominalmente os seus executores.

Nos governos petistas tivemos, até agora, os megaescândalos do mensalão e do petrolão, insuperáveis em sua podridão e em suas proporções. Nos governos do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) tivemos, entre outros -- além, claro, do mensalão e do berço do petrolão -- os escândalos dos sanguessugas e dos dólares na cueca. Nos governos FHC tivemos, entre outros, os escândalos da compra de votos para a reeleição e das privatizações. Nos governos Collor-Itamar tivemos o escândalo dos Anões do Orçamento além, obviamente, do escândalo que acabou por derrubar Collor.

Ser deputado federal converteu-se em um dos mais cobiçados empregos do país: dá direito a aposentadoria privilegiada, mordomias incontáveis, acesso a verbas fantásticas e, se isso não bastasse, foro privilegiado caso a nossa Justiça preguiçosa queira alcançar o ocupante desse emprego. O que deveria ser um serviço público gratuito ao país, transforma-se na melhor das sinecuras tupiniquins, o que fez com que vários desses artistas se pendurassem ou se pendurem na Câmara por décadas, como Manoel Novaes (da extinta Arena) que exerceu 12 mandatos consecutivos até 1982, Roberto Balestra (PP-GO) que está há 8 mandatos (desde 1986), Sarney Filho que está há 9 mandatos (desde 1982), Inocêncio Oliveira que teve 10 mandatos (de 1974 a 2010) e Miro Teixeira, que já está há 11 mandatos na Câmara (desde 1970), entre outros. 

Esse bando de privilegiados custa ao país a bagatela de R$ 75 milhões por mês, depois do aumento salarial que se auto-concederam.

Alguém, certamente um deputado, irá dizer que a Câmara já prestou grandes serviços ao país. Este argumento não serve, porque essa instituição tem isso por obrigação, ela não foi criada para palhaçadas, mordomias e pilantragens. Dever cumprido não tem que ser elogiado, precisamos deixar de lado essa prática ridícula. 

Com vários de seus membros com expertise consolidada na realização de grandes negócios no atacado, como o mensalão e o petrolão, por exemplo, a Câmara dos Deputados resolveu diversificar a experiência mercantilista ou mercenária de seus pupilos dando-lhes acesso a negócios no varejo. Para tanto, lançou um edital para a reforma de seu anexo 4 e a construção de três edifícios, dois deles voltados a gabinetes e departamentos técnicos da Casa e um terceiro que abrigará salas comerciais, lojas e restaurantes. Apesar de não mencionar a palavra shopping no procedimento de licitação, o prédio será uma espécie de centro comercial. 

Eduardo Cunha, o presidente da Casa que faz jus ao padrão vigente na instituição ao estar sob investigação da Justiça, resolveu classificar de "palhaçada" dar-se o nome de "shopping" a esse centro comercial dos deputados, talvez incomodado pelas críticas do Senado e da opinião pública. O nome oficial do local é o de menos, essa é uma discussão de sexo de anjos. O fundamental mesmo é que a Câmara dos Deputados finalmente reconheceu que nada melhor para caracterizá-la do que implantar oficial e explicitamente de vez um centro comercial e mercantil em suas entranhas. O próximo passo será abrir um concurso para o novo nome da "nova" Casa, algo como Câmara Shopping ou Shopping de Deputados, ou coisa que o valha.


3 comentários:

  1. Externo meus parabéns ao autor pela capacidade de informação e expressar o pensamento de revolta interna que causa a qualquer cidadão brasileiro honesto. Entretanto porque omitiu o governo safado de FHC que criou a famigerada reeleição?

    ResponderExcluir
  2. O governo FHC perdurou 8 anos - de 1994 a 2002 e o último dia de seu governo foi 31 de dezembro de 2002... O pt, aboletado no poder há mais de 12 anos contínuos. teve tempo para promover todas as mudanças que julgava necessárias. Como não as fez - sem querer entrar no por quê da questão - continua culpando FHC pelos males do país. FHC seria pior do que satanás, belzebu,hitler, stalin, lula e dilma, reunidos.... Cresçam.

    ResponderExcluir
  3. Até quando, afinal, o legislativo e executivo brasileiros abusarão da nossa paciência? (Quousque tandem?) Os "representantes" do povo, salvo exceção, são torpes e corruptos. Etc. e tal e fim de papo...

    ResponderExcluir