quarta-feira, 8 de abril de 2015

Judeus alemães são aconselhados a não usar o quipá

[Cresce o antissemitismo na Alemanha, como nos dá conta uma reportagem de Peter Maxwill na Spiegel Online International de 27/02/2015, que traduzo abaixo.]



Muitos judeus na Alemanha ficam tensos com o uso do quipá em público ou com com qualquer evidência ostensiva de que são judeus - (Foto: DPA/Fonte: Spiegel Online International)


O cabelereiro israelense Shalom Koresh criou em janeiro de 2015 um quipá invisível, feito de cabelo, para que judeus usem o tradicional solidéu com discrição - (Foto: Dan Ballty/AP) 


Quão antissemita é a Alemanha? O Conselho Central de Judeus está alertando os membros da comunidade contra o uso do tradicional quipá. É uma precaução que Mark Krasnov, de 26 anos, vem tomando há algum tempo.

Antes de sair de casa em Berlim, Mark Krasnov sempre se pergunta: "Devo ficar do lado seguro, ou devo usar o quipá?". - "Não quero provocar ninguém, nem quero que as pessoas tenham alguma ideia idiota", diz o judeu de 26 anos. O resultado é que muito dificilmente ele usa o solidéu quando sai, ele acha isso muito arriscado.

A questão da segurança de judeus na Alemanha tornou-se o tema de um debate público na quinta-feira, depois que Josef Schuster, presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha, se perguntou numa entrevista se "realmente fazia sentido" em "bairros problemáticos, com grande presença de muçulmanos, que alguém se faça identificável pelo uso de um quipá". Ele sugeriu que, nesses casos, "seria melhor escolher algo diferente para cobrir a cabeça".

"O risco está sempre presente", concorda Krasnov, que chefia o Centro da Juventude Judaica em Wiesbaden. "Quando você sai da sinagoga, o pessoal da segurança diz geralmente 'é melhor tirar o quipá. É mais seguro'". Krasnov diz que nunca mostra seu quipá quando está em público. "É para mim uma medida de segurança preventiva -- e, em última análise, uma autodefesa".  

Krasnov diz que o problema não é novo, mas recebeu um novo ingrediente recentemente. "Sou agora um pouco mais cuidadoso -- é claro que isso é também uma reação aos ataques em Paris e Copenhague", diz ele. "O risco tornou-se agora maior". Quatro judeus foram mortos em um ataque a um supermercado judeu em Paris, que ocorreu simultaneamente com o ataque mortal ao jornal satírico Charlie Hebdo. Duas semanas atrás, duas pessoas morreram em um ataque a um centro cultural judeu e sinagoga em Copenhague.

Mas não é só isso, há algo mais. Muitos judeus têm percebido que houve também uma mudança de clima ou postura na Alemanha. A Fundação Amadeu Antonio, um grupo que combate o racismo, contou 864 crimes antissemitas no ano passado, um aumento de quase 10% em relação a 2013. A instituição diz que suas cifras decorrem de informações fornecidas pelo governo federal alemão que não foram publicadas.

A Alemanha abriga cerca de 250.000 judeus, com cerca de 118.000 deles pertencendo às 108 comunidades judaicas oficiais do país. O país é o único na UE (União Europeia) que registrou um crescimento em sua população judaica nos últimos anos, com muitos outros -- como a França -- vivendo um êxodo de judeus. De fato, o nervosismo entre os judeus franceses é extremamente elevado após um aumento em notórios ataques antissemitas no país. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu chegou inclusive a exortar os judeus franceses a emigrarem para Israel.

Por ora, a comunidade judia na Alemanha sente-se ameaçada por três lados: por extremistas da direita, responsáveis pelos ataques mais violentos contra os judeus, pela esquerda anti-israelita e antissionista, e pelos islamistas. 

Krasnov diz que mesmo os grandes protestos anti-islâmicos em Dresden e Leipzig recentemente produziram nele um sentimento "desagradável". As marchas foram organizadas pelos "Europeus Patriotas contra a islamização do Ocidente" (Pegida, em alemão), um grupo que visa especificamente a integração muçulmana.





Nenhum comentário:

Postar um comentário