(Arte: Riki Blanco)
Pela primeira vez desde seu aparecimento, cai seu uso. Já ficamos entediados com fotos de pés e discussões com desconhecidos?
As redes sociais perderam seu encanto, e isto não é um exagero. Seu consumo caiu pela primeira vez, depois de dez anos de um crescimento enorme.
Para começar, um dado: em 2015, os espanhóis gastaram nove minutos menos por semana nas principais redes sociais, em comparação com 2014. Em um mercado que se alimenta, em grande parte, do tempo que lhe dedicamos, essa diminuição marca um ponto de inflexão em uma forma até agora hipnótica de consumo. Algo ocorre com nossa vida social virtual e nos Estados Unidos já lhe deram um nome: social media fatigue (fadiga social).Em espanhol: as redes começam a nos cansar. Pelo menos, tal e como as conhecemos.
O Facebook continua reinando, mas não escapa da queda. Cada semana, os espanhóis lhe dedicam uma média de 4 horas e 23 minutos. Isto já é 8 minutos menos do que em 2014, segundo um estudo anual de redes sociais do IAB Spain, a associação que representa o setor de publicidade em redes sociais.
Ainda que pareça pouco, se multiplicarmos isso pelos 15 milhões de usuários que há no país, a plataforma de Mark Zuckerberg está perdendo dois milhões de horas a cada semana. E na Internet, tempo é sinônimo de receita. A queda do Twitter é bastante mais notória: cai 37 minutos e fica com 2 horas e 32 minutos por semana.
A que se deve essa queda? "A intensidade com que se usavam as redes em seus inícios foi controlada", conclui o relatório do VII Observatório de Redes Sociais elaborado por The Cocktail Analysis y Arena em dezembro de 2015. Isto é, já superamos a emoção da primeira vez.
"Os usuários já não dão às redes um papel central em suas vidas, ainda que um em cada quatro as reconheça como imprescindíveis", explica Felipe Romero, CEO de The Cocktail Analysis. Algo semelhante ocorre em nível global. O uso do Facebook, que já supera o 1,6 bilhão de usuários, caiu 8% em nove países (Alemanha, Austrália, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Índia, Reino Unido e África do Sul), segundo uma análise que o medidor de tráfego SimilarWeb fez em dispositivos Android.
Há duas razões que explicam essa tendência: "Primeiro, o social puro está esfriando", assinala Romero. Isto significa dizer que converter o muro em nosso diário pessoal, bisbilhotar perfis alheios, compartilhar fotos da última festa ou ampliar o número de amigos virtuais já não agrada como antes.
As redes sociais estão evoluindo. Os jovens preferem os serviços de mensagens instantâneas instantâneas do que as ferramentas tradicionais.
O relatório do Observatório mostra um perfil de um tipo de usuário que é cada vez mais comum: o que se sente saturado de navegar entre grandes quantidades de fotos, retuítes, memes, discussões próprias e alheias ... e começa a usar essas plataformas como ferramentas mais funcionais do que sociais. Há outros que simplesmente as abandonam. Segundo a pesquisa, 10% dos espanhóis se obrigam a não entrar em seus perfis para deixar o hábito.
Por isso é mais comum a busca por espaços de desconexão, como as zonas livres de wifi -- que nos empurram para aquele costume quase esquecido de nos falarmos entre nós. Há iniciativas, como a 99 dias sem Facebook, uma experiência de uma agência de comunicação holandesa que convida os usuários a se absterem da rede social para ver se seu estado de espírito melhora, e cruzadas antirredes de figuras influentes que se rebelaram contra a ditadura do Like (curtir).
"Não medi bem meu tempo, me conectava muito e isso acabou condicionando meu trabalho, tanto que o uso do Twitter chegou a pesar sobre a atenção que dedicava ao correio eletrônico", conta o diretor artístico do Museu Thyssen-Bornemisza, Guillermo Solana, que encerrou sua conta em setembro passado, depois de três anos de uso.
Esse não foi o único motivo, foi também o ambiente de "ruído e hostilidade" que começou a perceber: "Às vezes, usar o Twitter é como organizar uma luta num bar, há um tom de discussão constante e isso me cansou".
Dissemos antes que havia dois motivos que explicam o cansaço provocado pelas redes sociais. Aqui vai o segundo: elas estão evoluindo, e nós com elas. Das mais populares, a maior (Facebook) tem 12 anos e a menor (Snapchat), cinco. A primeira é o muro público por excelência, o que guarda cada detalhe da nossa vida. A segunda, ao contrário, é tão reservada que alguns ainda não a entenderam por completo.
"A evolução das redes sociais tem sido muito rápida, e como sociedade mal estamos aprendendo a usá-las. É um comportamento lógico que alguém necessite se desconectar por um tempo, se abusou de algo", analisa Enrique Dans, professor da IE Business School. Que destaca algo mais: a fadiga social também atinge os jovens, e em grande escala.
"Os jovens vêem que o Facebook se estendeu tanto, que neles já estão não apenasseuspais mas também seus avós. Não encerram suas contas, mas continuam usando-as apenas para cumprimentos por aniversários ou para ver alguma foto", explica Dans. Em seu lugar, há uma preferência pelos serviços de mensagens instantâneas e mais privativos, como WhatsApp, Telegram e Snapchat, aplicativos criados especificamente para as telas dos celulares.
Os dados confirmam essa tendência: o WhatsApp é o preferido dos internautas espanhóis, acima das redes sociais consideradas puras. Depois de crescer em bom ritmo, estas pisaram no freio -- na Espanha, entre 2008 e 2012 sua penetração passou de 45% para 92%, e daí em 2015 baixou para 89%.
Em 2014, "ver o que fazem meus contatos" era a atividade favorita dos usuários espanhóis, e enviar mensagens ocupava o segundo lugar. Hoje é o contrário: sobe a troca de mensagens, seguida de ver vídeos e ouvir música, e cai o interesse em bisbilhotar os outros. Por isso, se esses usuários para fazer isso tivessem que usar exclusivamente o computador, "se perderiam, se frustariam, porque ficaram condicionados pelo vídeo e pelo celular", argumenta Romero.
Zuckerberg já percebeu isso. O Facebook comprou o WhatsApp e o Instagram (o Snapchat resistiu e recusou a oferta de US$ 3 bilhões que ele lhe fez) e há pouco se atualizou para para dar prioridade às publicações de amigos e familiares sobre outros conteúdos. E o fez com esta mensagem: "Em 2006, quando lançamos nosso News Feed, era difícil imaginar o desafio que enfrentamos agora: demasiada informação para que uma pessoa apenas possa consumí-la".
Sim, o excesso afeta também o gigante. Porque até a vida social (virtual) em grandes quantidades pode cair-nos mal.
[A reportagem acima, do El Mundo, tem praticamente o mesmo título de um artigo de 08 de junho deste ano ("Do you suffer from Social media fatigue? You are not alone") publicado no site Foursys.
Esse tema da "fadiga social" mencionado acima já foi abordado pelo Globo em agosto de 2011 ("Usuários de Facebook, Twitter e Orkut estão ficando cansados das redes sociais, diz Gartner" -- a Gartner é uma empresa de consultoria fundada em 1979 por Gideon Gartner, que desenvolve tecnologias relacionadas à introspecção necessária para seus clientes tomarem suas decisões).
Uma pesquisa realizada pela Gartner com usuários de redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut afirmava que, na época, "havia sinais de maturidade no mercado" e havia grupos de internautas que estavam mostrando uma espécie de "fadiga das mídias sociais". Um levantamento sobre uso, frequência de acessos e opiniões dos usuários, com objetivo de analisar tendências, feito com 6.295 pessoas com idade entre 13 e 74 anos, em 11 mercados desenvolvidos e em desenvolvimento entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, mostrou que parte significativa dos entrevistados dizia estar usando menos as redes sociais.
A pesquisa ouviu 581 pessoas no Brasil, um dos países onde mais usuários foram entrevistados. E de acordo com análise da BBC, o Orkut, rede social da Google, ainda era o líder em usuários, seguido pelo You Tube -- que apresenta também funções sociais -- e pelo Facebook.
Em 6 de junho deste ano, o site CNBC publicou o artigo "As pessoas estão gastando muito menos tempo com aplicativos de mídias sociais: Relatório" ("People are spending much less time on social media apps: Report"). O relatório refere-se também ao estudo feito com usuários de Android, comparando o tempo gasto por eles com Facebook, Instagram, Twitter e Snapchat de de janeiro a março de 2016 relativamente ao mesmo período de 2015. São do relatório os seguintes gráficos (Q1 = primeiro trimestre), que mostram o tempo médio (em minutos, eixo das ordenadas) gasto com os aplicativos Instagram, Twitter, Snapchat e Facebook:
Me parece que, apesar da queda em sua utilização, as redes sociais continuarão ainda por longo tempo exercendo muita atração sobre muita gente e permanecerão sendo uma enorme fonte de receitas para os aplicativos que as dominam. Como esse setor da Tecnologia da Informação é extremamente dinâmico, de uma hora para outra podem surgir novidades e/ou aperfeiçoamentos que podem fazer essas redes ganharem novo impulso.]
"A evolução das redes sociais tem sido muito rápida, e como sociedade mal estamos aprendendo a usá-las. É um comportamento lógico que alguém necessite se desconectar por um tempo, se abusou de algo", analisa Enrique Dans, professor da IE Business School. Que destaca algo mais: a fadiga social também atinge os jovens, e em grande escala.
"Os jovens vêem que o Facebook se estendeu tanto, que neles já estão não apenasseuspais mas também seus avós. Não encerram suas contas, mas continuam usando-as apenas para cumprimentos por aniversários ou para ver alguma foto", explica Dans. Em seu lugar, há uma preferência pelos serviços de mensagens instantâneas e mais privativos, como WhatsApp, Telegram e Snapchat, aplicativos criados especificamente para as telas dos celulares.
Os dados confirmam essa tendência: o WhatsApp é o preferido dos internautas espanhóis, acima das redes sociais consideradas puras. Depois de crescer em bom ritmo, estas pisaram no freio -- na Espanha, entre 2008 e 2012 sua penetração passou de 45% para 92%, e daí em 2015 baixou para 89%.
Em 2014, "ver o que fazem meus contatos" era a atividade favorita dos usuários espanhóis, e enviar mensagens ocupava o segundo lugar. Hoje é o contrário: sobe a troca de mensagens, seguida de ver vídeos e ouvir música, e cai o interesse em bisbilhotar os outros. Por isso, se esses usuários para fazer isso tivessem que usar exclusivamente o computador, "se perderiam, se frustariam, porque ficaram condicionados pelo vídeo e pelo celular", argumenta Romero.
Zuckerberg já percebeu isso. O Facebook comprou o WhatsApp e o Instagram (o Snapchat resistiu e recusou a oferta de US$ 3 bilhões que ele lhe fez) e há pouco se atualizou para para dar prioridade às publicações de amigos e familiares sobre outros conteúdos. E o fez com esta mensagem: "Em 2006, quando lançamos nosso News Feed, era difícil imaginar o desafio que enfrentamos agora: demasiada informação para que uma pessoa apenas possa consumí-la".
Sim, o excesso afeta também o gigante. Porque até a vida social (virtual) em grandes quantidades pode cair-nos mal.
[A reportagem acima, do El Mundo, tem praticamente o mesmo título de um artigo de 08 de junho deste ano ("Do you suffer from Social media fatigue? You are not alone") publicado no site Foursys.
Esse tema da "fadiga social" mencionado acima já foi abordado pelo Globo em agosto de 2011 ("Usuários de Facebook, Twitter e Orkut estão ficando cansados das redes sociais, diz Gartner" -- a Gartner é uma empresa de consultoria fundada em 1979 por Gideon Gartner, que desenvolve tecnologias relacionadas à introspecção necessária para seus clientes tomarem suas decisões).
Uma pesquisa realizada pela Gartner com usuários de redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut afirmava que, na época, "havia sinais de maturidade no mercado" e havia grupos de internautas que estavam mostrando uma espécie de "fadiga das mídias sociais". Um levantamento sobre uso, frequência de acessos e opiniões dos usuários, com objetivo de analisar tendências, feito com 6.295 pessoas com idade entre 13 e 74 anos, em 11 mercados desenvolvidos e em desenvolvimento entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, mostrou que parte significativa dos entrevistados dizia estar usando menos as redes sociais.
A pesquisa ouviu 581 pessoas no Brasil, um dos países onde mais usuários foram entrevistados. E de acordo com análise da BBC, o Orkut, rede social da Google, ainda era o líder em usuários, seguido pelo You Tube -- que apresenta também funções sociais -- e pelo Facebook.
Em 6 de junho deste ano, o site CNBC publicou o artigo "As pessoas estão gastando muito menos tempo com aplicativos de mídias sociais: Relatório" ("People are spending much less time on social media apps: Report"). O relatório refere-se também ao estudo feito com usuários de Android, comparando o tempo gasto por eles com Facebook, Instagram, Twitter e Snapchat de de janeiro a março de 2016 relativamente ao mesmo período de 2015. São do relatório os seguintes gráficos (Q1 = primeiro trimestre), que mostram o tempo médio (em minutos, eixo das ordenadas) gasto com os aplicativos Instagram, Twitter, Snapchat e Facebook: