domingo, 28 de fevereiro de 2016

Como um mosquito minúsculo se tornou um dos assassinos mais eficientes do planeta

[Traduzo a seguir uma reportagem de Brad Dennis, do The Washington Post sobre o Aedes Aegypti. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Fêmeas de mosquitos Aedes Aegypti pousadas no braço de um técnico de saúde em um laboratório que realiza pesquisa sobre como evitar a disseminação do vírus zika na cidade de Guatemala - (Foto: Josué Decavele/Reuters)

É um dos mais incansáveis perseguidores na Terra, que utiliza uma tromba minúscula, semelhante a uma agulha, para picar suas vítimas e sugar seu sangue. Se alimenta quase exclusivamente de sangue humano e nunca se aventura para longe de onde vivem suas vítimas, depositando ovos em tampas de garrafas, pneus usados e vasos de plantas. Cabe facilmente em uma única unha de dedo, mesmo assim tem atormentado exércitos e eliminado o equivalente à população de cidades inteiras. 

Milhares de espécies de mosquitos habitam o planeta, mas poucos têm mostrado maior capacidade de adaptação e recuperação -- ou se mostrado mais mortíferos aos seres humanos -- do que o Aedes aegypti. Tem alimentado uma longa série de epidemias mundo afora: dengue, febre amarela, chikungunya e, agora, zika. 

"É um dos assassinos mais eficientes no mundo", disse Peter Hotez, decano da Escola Nacional de Medicina Tropical na Escola de Medicina Baylor [Houston, Texas, EUA].  

O Aedes aegypti provocou um surto extremamente severo de febre amarela nos anos 1890, o que apressou a decisão dos franceses de abandonar a construção do Canal do Panamá. Fez com que milhares de soldados adoecessem durante a Guerra Hispano-Americana. Esteve por trás de surtos mortais de febre amarela durante o século 19 em Nova Orleans, em Hampton Roads na Virgínia e em Memphis. Ainda hoje, provoca dengue em cerca de 20 milhões de pessoas por ano ao redor do mundo.

Como um sugador de sangue transmite o vírus zika

O mosquito Aedes aegypti é o vetor perfeito para disseminar o vírus. Ele coleta o vírus de uma pessoa e então pode infectar outra pessoa ao injetar nela saliva de sua tromba semelhante a uma seringa.

Figura 1                                                          Figura 2                                        Figura 3

[Os termos em inglês referem-se às legendas em inglês na figura do texto em inglês, que infelizmente não apareceram na reprodução acima.] 

Figura 1  (capillaries = vasos capilares) 

Mosquitos são medidos pelo comprimento de suas asas. O mosquito da febre amarela, Aedes aegypti, possui asas que têm no máximo 3,17 mm de comprimento.

Buscando uma refeição de sangue. Enquanto procura um vaso sanguíneo, a fêmea do mosquito movimenta sua tromba como uma serra, para a frente e para trás, sob a pele da vítima. Ela injeta ali saliva, que atua como um anestésico e evita que o sangue coagule quando ela atinge um vaso capilar. 

Figura 2  - (midgut = intestino médio)

Infectando o vetor. Após perfurar um vaso, o mosquito bombeia sangue para o seu intestino-médio. Se seu anfitrião estiver infectado com o vírus zika, seu sangue conterá minúsculas partículas do vírus, cada uma com menos de um centésimo de um glóbulo vermelho (diâmetro da partícula do zika: 50 nanômetros = 5,0 x 10(-8) m). 

Figura 3  - (edge of red blood cell = limite de um glóbulo vermelho = 7 x 1o(-6) mm); - hemolymph = hemolinfa [em zoologia, fluido que tem as mesmas funções do sangue dos vertebrados, mas como uma composição química diferente]; - (salivary glands = glândulas salivares; - heart = coração)

Passando o vírus adiante. O vírus sai do intestino do inseto e vai para a cavidade de seu corpo, que está cheio de hemolinfa (seu sangue), que é bombeado através da cavidade do corpo por um coração longo e tubular. O vírus finalmente penetra nas glândulas salivares, onde é preparado para ser injetado em outra pessoa.

(Fonte: ViralZone, Journal of Experimental Biology, Journal of Medical Entomology, staff reports. GRAPHIC: Patterson Clark - The Washington Post. Published Feb. 20, 2016.)

O que faz do Aedes aegypti um inimigo tão formidável e um veículo tão eficiente para transmitir doenças? Parte se deve à biologia, parte se deve a uma incomum e misteriosa capacidade para se adaptar.

Essa espécie de mosquito, que é encontrada em regiões que abrigam mais da metade da população do planeta, evoluiu para desenvolver-se em lugares onde os seres humanos se agrupam -- particularmente em ambientes urbanos densos, com abundância de lixo e recipientes abertos. O mosquito pode crescer em lugares minúsculos, dentro e fora das casas. Suas larvas não precisam necessariamente de água para sobreviver, e seus ovos podem permanecer inativos e latentes por um ano ou mais, para eclodir apenas quando submersos em água. Os ovos pegajosos grudam-se a recipientes tão comuns e variados como os interiores de pneus velhos e pequenos recipientes de água para pássaros.

"É uma dessas pestes, como as baratas, que evoluiu nos últimos 15.000 anos para explorar as mudanças no comportamento e nas habitações dos seres humanos", disse em uma conferência Ronald Rosenberg, diretor em exercício da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores, nos Centros para Controle e Prevenção de Doenças [Georgia, EUA]. "Ele se desenvolve onde as pessoas convivem muito próximas umas às outras".

A OMS - Organização Mundial da Saúde descreveu recentemente o Aedes aegypti como "oportunista", com uma capacidade incomum para se adaptar a ambientes mutáveis, explorar oportunidades oferecidas por crescentes viagens internacionais e por uma rápida urbanização, e florescer "com impressionante eficiência" em áreas pobres.

As fêmeas -- as únicas que picam [os machos se alimentam de frutas ou outros vegetais adocicados] -- caracteristicamente podem botar de 100 a 200 ovos após cada refeição (picada)  e podem produzir numerosos lotes de ovos ao longo de sua vida.

"Foram encontradas larvas numa multidão de recipientes artificiais, como copos de plástico e tampas de garrafas descartados, pratos sob vasos de plantas, recipientes com água para pássaros, vasos em cemitérios e vasilhas de água para animais domésticos", disse a OMS. "Os mosquitos podem desenvolver-se também em culturas microbianas encontradas em fossas sépticas, vasos sanitários e em boxes para banhos de chuveiro. Canteiros de obra e calhas obstruídas oferecem oportunidades adicionais para a produção de mosquitos em grandes quantidades".

A constituição genética e os hábitos alimentares do Aedes aegypti fazem dele um vetor ideal para disseminar doenças como a zika entre os seres humanos. As fêmeas dos mosquitos, que se banqueteiam com sangue para suprir proteínas para seus ovos, tomam uma "refeição de sangue" de uma pessoa já infectada. Esse sangue é levado então para a região do intestino médio do mosquito. Em muitas espécies de mosquitos, o vírus permaneceria restrito ao intestino médio e a cadeia de transmissão acabaria.

Mas, o Aedes aegypti possui o que os entomologistas chamam de "competência vetorial". Neste caso, isto  significa que o vírus se replica dentro do mosquito e encontra seu caminho de volta para as glândulas salivares do inseto -- um processo que pode durar dias. Quando o mosquito pica outra pessoa, transmite o vírus para o novo hospedeiro.

"Não leva muito tempo", disse Rebekah Kading, uma entomologista e professora assistente na Universidade do Estado do Colorado. "Biologicamente ele é um vetor muito competente". Infelizmente, é também muito faminto.

Os mosquitos Aedes aegypti são picadores agressivos durante o dia, especialmente no amanhecer e no anoitecer. Podem se esconder debaixo de camas, em armários ou em outros ambientes com sombra. Se "alimentam por goles", significando que se alimentam frequentemente e de múltiplos hospedeiros -- uma prática que permite espalhar a doença muito rapidamente. Especialistas dizem que são adeptos também dos ataques sorrateiros, nos quais se aproximam das pessoas por trás, picando-as nos tornozelos e nos cotovelos para assim evitar serem detetados e esmagados/afugentados.

"Sua picada não é muito forte", disse Joseph Conlon, assessor técnico da Associação Americana de Controle de Mosquitos, um grupo científico sem fins lucrativos baseado em Nova Jersey. "Pode começar se alimentando em sua perna enquanto você toma seu café da manhã, e você pode até nem perceber. Ele pode então voar rapidamente para outra pessoa e se alimentar dela. Ele tem toda a capacidade de transmitir o vírus para muitas pessoas".

Não foi senão até o início dos anos 1900 que os cientistas confirmaram que flagelos como a febre amarela estavam sendo disseminados grandemente por mosquitos. Nas décadas que se seguiram, a humanidade declarou guerra contra o Aedes aegypti mais de uma vez, com algum êxito. No final dos anos 1940 e 1950, por exemplo, uma campanha levou à erradicação desse mosquito em pelo menos 18 países latino-americanos e em algumas ilhas do Caribe [a febre amarela foi erradicada no Brasil em 1907, graças à atuação de Osvaldo Cruz, pioneiro aqui no diagnóstico de que a doença era transmitida pelo Aedes aegypti].

Mas o esforço acabou por se enfraquecer, quando a vigilância diminuiu e a vontade política reduziu-se. Os mosquitos desenvolveram resistência aos inseticidas, e o ritmo da urbanização superou os esforços de erradicação. O Aedes aegypti fez um dramático retorno, o mesmo acontecendo com doenças como a dengue.

"Temos lutado contra esse mosquito por um século, ou mais", disse Kading. "É um mosquito duro de se lidar".

O Aedes aegypti é um dos muitos mosquitos que atormentam os seres humanos. Algumas espécies do mosquito Anopheles podem transmitir a malária, que anualmente provoca centenas de milhares de mortes ao redor do mundo. Mosquitos da espécie Culex são considerados o principal vetor do vírus do Nilo Ocidental, que provoca uma doença neurológica potencialmente fatal encontrada em partes da África, Europa, Oriente Médio, América do Norte e Ásia. Outras espécies de mosquitos carregam uma porção de agentes patogênicos, que são responsáveis por doenças que incluem a encefalite e a febre do Vale do Rift [esta febre, transmitida pela picada de um mosquito, foi detetada pela primeira vez em 1915 no Vale do Rift, na  África, mas o vírus só foi isolado em 1931 -- esse vale é um complexo de falhas tectônicas que se estende do norte da Síria até o centro de Moçambique].

Mas o vírus zika continua com sua rápida disseminação através das Américas, e com os pesquisadores cada vez mais convencidos com seus vínculos com danos cerebrais em bebês e com uma síndrome rara [a síndrome de Guillain-Barré] que pode levar à paralisia em adultos, autoridades da área de saúde estão repetindo a pergunta que seus antecessores fizeram durante gerações: como podemos combater o Aedes aegypti? A resposta: é possível, mas não é barato nem fácil.

"Há uma tremenda parcela da história humana que tem sido influenciada por esse mosquito", disse Conlon. "É uma das menores das criaturas de Deus, mas pode causar uma tremenda quantidade de problemas e danos à humanidade. E ele tem feito isso".

  




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

4 argumentos a favor do uso de armas que os americanos estão de saco cheio de ouvir

[Traduzo a seguir o artigo de Amanda Marcotte publicado na revista Rolling Stone em outubro de 2015. Até 01/10/2015 haviam ocorrido nada menos de 264 assassinatos em massa de civis inocentes nos EUA, ou seja quase um crime desses por dia! O culto doentio e obsessivo ao porte de arma de fogo dos americanos é uma aberração absurda. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O Colégio Comunitário Umpqua, no Oregon, foi o local do mais recente [até então] assassinato em massa nos EUA, em 01/10/2015 - (Foto: Ryan Kang/AP)

Mais um dia, mais um horrível assassinato em massa. Desta vez foi na pequena cidade de Roseburg, no Oregon, no campus do Colégio Comunitário Umpqua. Relatos apontam mais de duas dezenas de pessoas atingidas por arma de fogo.

Enquanto vítimas estão sendo levadas às pressas para um hospital, muitos críticos autoritários e políticos da direita estão certamente preparando seus argumentos sucintos para explicar porque o 264˚ assassinato em massa do ano não justifica que os EUA devam tornar mais rígido o acesso a armas de fogo letais. [Essa estatística relativa a 2015 cobre apenas até 01 de outubro desse ano. Dados posteriores mostram que até 31/12/2015 houve 372 tiroteios em massa nos EUA, com 475 mortos e 1.870 feridos. Estas estatísticas seguem o conceito da organização Mass Shooting Tracker (Rastreador de Tiroteios em Massa, em tradução direta), que define assim todo incidente dessa natureza em que pelo menos 4 pessoas são mortas ou feridas.]

2015: o ano dos assassinatos em massa nos EUA - (Mapa: Rolling Stone)

OK, caras, eu detesto detalhar isso para vocês, mas ouvimos vocês numa primeira vez. E pela segunda vez. E em centenas de vezes, desde que nosso país luta com uma ansiedade individual de eliminar tantas vidas quantas for possível com uma arma de fogo. Podemos recitar seus argumentos quando dormimos, e eles não melhoraram com a repetição. 

1. "Armas não matam pessoas. Pessoas matam pessoas"

Este é um argumento fantástico para quem não sabe diferenciar entre uma morte e dezenas de mortes. Certamente, um assassino pode matar uma pessoa ou duas com uma faca até que o impeçam de prosseguir. Mas, para realmente acumular aquelas contagens de mortes de explodir nossas mentes -- para garantir que muitas vidas sejam destruídas e famílias arruinadas num intervalo de 5 a 10 minutos -- você precisa de uma arma de fogo. Se tudo com que você se preocupa é repartir a culpa e declarar que alguém tem ou não tem a intenção de matar, então sem dúvida alguma afirme que uma faca e uma arma de fogo são armas equivalentes. Para aqueles entre nós que, entretanto, estão mais preocupados com uma maneira de prevenir mortes desnecessárias do que simplesmente admitir que existe ódio nos corações de algumas pessoas, o montante de dano absoluto que uma arma de fogo pode fazer justifica limitar quem possa botar as mãos em uma delas.

2. "A única coisa que pode parar uma pessoa má com uma arma é uma pessoa boa com uma arma"

Se você prefere frases incisivas a duras evidências, posso ver como isso seria convincente. Mas se você olhar para o mundo real, você descobrirá que longe de serem nossa única esperança bons rapazes com armas dificilmente representam qualquer tipo de ajuda. Nenhum assassinato em massa nos últimos 30 anos foi impedido por um civil armado; em 1982, um civil armado conseguiu matar um atirador, mas apenas depois dele ter cometido seu crime. 

Também não se trata de que não existam armas o bastante. Há tantas armas quanto pessoas neste país, e plenamente um terço da população está armado. Mesmo quando o tiroteio ocorre em locais em que armas de  fogo são bem-vindas, onde pessoas armadas certamente estão por perto, esse cenário vigilante simplesmente não funciona. Isso porque sacar uma arma e atirar de volta no caos de um assassinato em massa apenas faz com que as coisas piorem, como se verificou quando um pretenso herói no atentado a tiro contra Gabby Giffords [política do Arizona] quase matou o homem errado (o real atirador foi atacado por um homem idoso). 

3. "Saúde mental, porém"

Opositores do controle de armas adoram trazer ao debate o problema da inadequada atenção à saúde mental, depois que ocorre um tiroteio. Isso é feito unicamente para desviar a atenção, porque não há indicação de que os republicanos jamais um dia trabalharão por uma reforma significativa dos nossos sistemas de saúde mental -- que, é verdade, são deploravelmente inadequados. Esse é um tema que só lhes interessa na imediata sequência de um tiroteio -- depois, é esquecido, até que ocorra outro tiroteio. Limpa, repete. 

Igualmente, a estratégia da "saúde mental" nesse contexto é sempre vaga. Qual é realmente o plano?  Juntar todo mundo que tenha um problema de natureza mental e colocá-los sob chaves? Isso afeta 1 em cada 5 americanos, a vasta maioria dos quais não tem tendências violentas. Temos algum tipo de registro abrangente sobre saúde mental? Há muitos americanos que lutam contra questões de saúde mental que, entretanto, não foram diagnosticados. Colocá-los numa lista do governo que restringe seus direitos não é uma boa maneira de induzir a que tenham um diagnóstico. Há um bocado de atiradores neste país, portanto temos bastante dados bons sobre atiradores que alvejam grupos de pessoas. E esses dados mostram que não há nenhum modo confiável para dizer quem saiu da linha dessa maneira, e apenas 23% dos atiradores têm um diagnóstico. Mesmo que todos esses indivíduos tivessem um tratamento 5 estrelas, o sistema conseguiria impedir de agir apenas uns poucos atiradores. 

4. "É a Segunda Emenda, baby"

Eis um bom momento para lembrar a todo mundo que a Segunda Emenda foi escrita por senhores de escravos, antes de que tivéssemos eletricidade e muito menos o tipo de armamento que assassinos potenciais podem comprar hoje. Mas, com certeza, se você acha que isso é tão precioso podemos chegar a um acordo: se você ama tanto a Segunda Emenda, sinta-se livre para viver com uma peruca empoada e evacuar num pinico, enquanto tenta sobreviver com o que você pode matar com um mosquete do século 18. Em troca, deixe-nos -- nós que vivemos neste século -- aprovar algumas leis, de modo que nos sintamos seguros para ir à escola, ou ao cinema, ou para qualquer lugar, sem que tenhamos que nos preocupar com a possibilidade de que algum desajustado tenha sua vingança provocando a morte de estranhos aleatoriamente.

[Ver também: 

Deixar crianças usar armas de fogo é bom para elas, diz artigo da revista Time

Inacreditável: treinamento militar para crianças nos EUA]








A tal da terceira idade

Recentemente, Ruy Castro e Cora Rónai escreveram crônicas sobre a chamada terceira idade, com diferentes abordagens. Ruy Castro voltou ao tema mais ou menos duas semanas depois (denunciando inclusive deturpações de seu texto original que circularam bastante na internet). Os textos, como sói acontecer com esses dois renomados e requintados escritores, são muito bem escritos, mas pesa neles um certo pessimismo e um certo mau humor com essa fase da vida. Acho que ambos estavam num mau dia, com o humor em baixa, o que acontece aos melhores dos mortais às vezes mais do que se espera e deseja.

A tal da terceira idade é uma experiência fascinante, não há a menor dúvida. O "fascinante" evidentemente só se aplica se houver predisposição positiva para enfrentá-la, caso contrário ela certamente será um calvário e um atalho para um fim triste. Voltarei a isto mais adiante.

Como toda experiência, a terceira idade nos traz surpresas positivas e negativas. Entre estas últimas a mais contundente é sem dúvida o enorme descompasso entre a mente e o corpo: este envelhece e se deteriora muito mais rápido que aquela (volto a frisar que isto só se aplica a quem entra mentalmente "inteiro" na terceira idade). Essa enorme defasagem nos impõe desafios extras, às vezes sutis outras vezes evidentes (mais isto que aquilo), que nos obrigam a cuidados adicionais obrigatórios, dentro e fora de casa. A começar pelo lado físico. Dentro de casa, por exemplo, qualquer altura acima da ponta dos pés é um forte convite a um tombo de resultados imprevisíveis, e uma escada tem que ser subida e descida degrau a degrau. Atravessar a rua, só com tempo de folga no sinal verde. Forçar a barra é uma burrice inconsequente e muito arriscada. Afobação não combina com nada, muito menos com a terceira idade.

Esse mesmo distanciamento mente x corpo nos reserva surpresas que nos espantam: por exemplo, a primeira vez que alguém lhe cede o lugar numa condução é um impacto. Você logo pensa: caramba, estou tão velho assim?!

A terceira idade nos provoca reações paradoxais. Nos tornamos mais compreensivos e tolerantes com certas coisas, mas absolutamente irritadiços e intolerantes com outras, em especial com aquelas que traduzem desrespeito, falta de educação, falta de civilidade e ausência de espírito comunitário -- estas grosserias nos levam (ou me levam) à beira da apoplexia. Onde isso acontece? Em qualquer lugar que tenha pelo menos dois brasileiros juntos. Lugares mais comuns: metrô, cinema, shoppings ... Isso ocorre -- ou pelo menos ocorreu -- em certo grau também com Ruy Castro e Cora Rónai, como se observa nos textos acima citados.

Mas, a terceira idade é também muito enriquecedora. A bênção dos netos é uma emoção permanente, renovada e indescritível. Conviver com essas criaturas maravilhosas ultrapassa qualquer expectativa. A saudável "competição" com os pais deles nas funções de educá-los e "deseducá-los" por si só vale o ingresso.

A terceira idade nos apresenta também, de maneira clara e inequívoca, a perfeita noção da finitude da vida. E este é um conceito muito desafiador e potencialmente muito perigoso. Uma mente despreparada e passiva pode levar a uma decisão profundamente desastrosa de, por exemplo, interromper aprendizados, realizações e conquistas sob a ótica absurdamente distorcida de que "não faz sentido acumular mais acervos, se o fim não está lá tão distante". Nada mais estapafúrdio! A vida é tão valiosa, rica e sublime que deixar de desfrutá-la sempre e permanentemente na plenitude da capacidade física e mental de cada é um erro ao mesmo tempo injustificável e imperdoável -- e que sai incrivelmente caro.

A terceira idade nos traz também uma descoberta no mínimo intrigante: o enorme poder de um suspiro, de um lamento ou de um gemido ... O que isso ajuda a vencer uma chatice é impressionante ...

Não vou entrar na seara dos problemas físicos e psicológicos acarretados pela terceira idade, eles foram suficientemente abordados por Ruy Castro e Cora Rónai. Apenas acho que, por serem inevitáveis e inexoráveis vários deles, a melhor filosofia é fazer de cada limão a melhor limonada possível. Simples assim.

O grande problema de que tenho conhecimento por leitura e por ouvir dizer  quanto à terceira idade são o desconforto e a extrema dificuldade de adaptação a ela experimentados por quem se aposenta. Vou abordar o problema no caso masculino, com o qual mais convivo e também por minha própria experiência. As mulheres, por sua própria natureza, costumam se sair melhor que nós também nessa fase da vida.

Tenho conhecidos e amigos qua caíram num vácuo e até em depressão após a aposentadoria, simplesmente por perderem a noção do que fazer da vida. Sei de casos até de suicídio por isso. Não há uma panaceia para o problema, cada pessoa é um caso, mas há algumas regras básicas de aplicação universal.

Viver intensamente a vida familiar. O "intensamente" não implica necessariamente fazer tudo junto, mas compartilhar tudo ao máximo (os bons e os maus momentos), dialogar frequentemente, viajar em grupo sempre que possível, reunir-se sempre que possível, estreitar ao máximo os laços internos. A força de uma família unida é insuperável e insubstituível. Uma base familiar unida, companheira e sólida é um gigantesco passo para uma velhice serena e feliz.

Manter a mente sempre em atividade e aberta a novas experiências. Um dos grandes medos de quem ingressa na terceira idade é a chegada do "alemão" (Alzheimer), um hóspede indesejável que não sai mais da casa que o hospeda. Esse é um mal horrível, infelizmente ainda sem cura. Sabe-se que certas células já se predispõem a "agasalhá-lo" já na meia-idade, ou até antes. Mas sabe-se também que manter a mente permanentemente ocupada e desafiada tem um tremendo poder de adiar ou até mesmo de eliminar a vinda do alemão.

Uma primeira e urgente preocupação/iniciativa de quem está para se aposentar, ou recém iniciou sua aposentadoria, é não só manter seus hobbies e distrações/ocupações preferidos, mas procurar permanentemente diversificá-los e expandí-los. Quem não os tem, necessita criá-los impreterivelmente, não importa seu valor absoluto ou relativo. Música, leitura, cinema, teatro, museus, gastronomia  (que pode ser boa sem assaltar o bolso), caminhadas, debates são sensacionais para isso. Atividades outras como por exemplo carpintaria, jardinagem, colecionar qualquer coisa, aprender e praticar idiomas, fazer cursos diversos e enriquecedores, explorar ao máximo a internet (sem dela ficar escravo) para expandir horizontes de informação e cultura, escrever, fazer passatempos que desafiam sua mente [palavras cruzadas (em mais de um idioma, se for de sua capacidade), jogos diversos (há por exemplo dois jogos interessantes que distraem e ensinam ao mesmo tempo: o freerice [que tem as opções Humanidades (Pinturas Famosas/Literatura/Fome no Mundo/Frases Famosas); -- Matemática (Tábuas de Multiplicação/ Matemática Básica (pré-Álgebra); -- Aprendizado de Idioma (Alemão/Espanhol/Francês/Italiano/Latim); -- Ciências (Anatomia Humana); -- Inglês (Vocabulário/Gramática); -- Química (Símbolos Químicos -- lista completa)/Símbolos Químicos (básicos); -- Geografia (Marcos Mundiais/Identificação de Países em Mapas/Capitais Mundiais/Bandeiras do Mundo)/Preparação para Exame] e o Letroca (um jogo para, a partir de letras embaralhadas, encontrar as diversas opções de palavras possíveis, com tempo marcado -- pode ser jogado em português, espanhol e inglês)].

Além de alguns dos hobbies acima, acrescentei um que que me ocupa intensamente e me dá uma enorme satisfação, que foi criar e manter este blogue, o BomLero -- escrito unicamente em português, ele está neste exato momento em que escrevo com 384.176 acessos, com seguidores em países tão diversos como Vietnã, Coreia do Sul, EUA, Irlanda, Israel, Alemanha, Espanha, Índia, Eslováquia, Polônia, Rússia, Ucrânia, Portugal, México, Itália e outros (o Google Blogger atualiza e informa isso o tempo todo). Decidi fazê-lo sem enfoque único e específico, mas aberto como um jornal, porque acredito que isso me permite ser mais útil aos meus seguidores ao mesmo tempo em que me apresenta um desafio maior e constante, que é o de buscar notícias diferenciadas e interessantes em fontes diversas que consigo dominar.

Combater o sedentarismoCerca de 70% da população mundial sofrem os riscos do sedentarismo, responsável por mais de 50% das mortes por infarto. A falta de exercício pode ser um fator de risco tão grave para o coração quanto a hipertensão, diabetes, tabagismo, colesterol alto ou obesidade - e, se associado a esses, pior ainda. Para se ter uma ideia, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, 70% da população mundial são de sedentários. E a falta de atividade física, somada a uma alimentação não-balanceada, é responsável por 54% do número de mortes por infarto. Já um estilo de vida ativo pode ajudar a reduzir o risco de morte em até 40%.

"A atividade física ajuda a baixar os níveis de colesterol e melhorar o controle do diabetes, além de auxiliar no equilíbrio da pressão arterial e melhorar a capacidade respiratória", explica o cardiologista Marcos Bubna. "São atividades simples, como caminhada, corrida, natação ou andar de bicicleta, que podem salvar muitas vidas", completa.

O ideal, segundo os parâmetros da Sociedade Brasileira de Cardiologia, é praticar uma atividade aeróbica pelo menos quatro dias por semana, com um mínimo de 40 minutos de duração, que podem ser divididos em dois ou três períodos diários. "Antes de iniciar seu programa de atividade física é muito importante um bom check-up do coração, um eletrocardiograma, o teste de esforço e a consulta com um cardiologista. Esse cuidado pode dar muito mais segurança ao exercício e para prevenção cardíaca", reforça Bubna.

Ficar muito tempo sentado é considerado hoje tão maléfico quanto o tabagismo. Um estudo australiano publicado em outubro de 2012 no British Journal of Sports Medicine comparou ficar sentado e o tabagismo. De acordo com o estudo, cada hora de televisão que as pessoas assistem, presumivelmente sentadas corta cerca de 22 minutos de sua vida útil, enquanto estima-se que os fumantes encurtam suas vidas por cerca de 11 minutos por cigarro.


Veja algumas dicas simples para deixar o sedentarismo de lado, respeitando sempre as eventuais limitações de  cada pessoa 

- Adotar quatro dias na semana para fazer uma caminhada -- além dos benefícios para o coração, a prática ajuda no bem-estar;
- Levantar-se para falar com alguém que esteja próximo, ao invés de chamá-lo pelo telefone;
- Aproveitar toda e qualquer oportunidade para se locomover andando;
- Para subir ou descer um andar, prefira a escada a menos de algum impedimento de força maior.

Caminhar é o mais simples e acessível dos remédios, e seguramente um dos mais prazerosos. Lhe permite várias opções mentais junto com o exercício físico: não pensar em nada e só curtir o entorno (a melhor alternativa), ou pensar em planos e coisas leves. Levar problemas para a caminhada é besteira, sai o tiro pela culatra. Se você tiver um desses relógios que registram o batimento cardíaco verá que isso não falha: se você caminhar pensando em problemas que o atormentam, o coração inevitavelmente se acelera.

Não veja a terceira idade como um castigo. Enfim, a terceira idade tem aspectos e prazeres que igualam ou facilmente superam as mazelas físicas e outros problemas que quase sempre ou inevitavelmente traz, é só saber encontrá-los e desfrutá-los. Otimismo e alto astral são indispensáveis para um suave navegar nesse oceano especial da vida, e em qualquer outro, claro. E isso está longe de ser demagogia ou algo para inglês ver. Basta, por exemplo, ouvir a música e meditar a letra de "Tocando em Frente", de Almir Sater e Renato Teixeira, que tem versos simplesmente geniais e definitivos como "Cada um de nós compõe a sua história/Cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz".


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A fantástica fotógrafa espanhola Marina Cano

Marina Cano é uma premiada fotógrafa espanhola que se especializou em fotografar a vida selvagem. Salvo indicação em contrário, as fotos são de seu site oficial.





















 



















domingo, 21 de fevereiro de 2016

A operadora telefônica francesa Orange anunciou para 2021 o fim de sua rede de telefonia fixa

[A operadora de telefonia francesa Orange estabeleceu para 2021 o fim de sua rede de telefonia fixa, como informa o jornal francês Le Figaro, cuja reportagem traduzo a seguir. Quanto tempo durará ainda a telefonia fixa no Brasil? O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


Orange, ex-France Télécom, prepara a interrupção de sua rede telefônica fixa tradicional. Os aparelhos telefônicos ligados a simples tomadas telefônicas nas paredes não soarão mais - (Foto: Fotolia)

Um pouco mais de 12 milhões de linhas serão afetadas. Os bons e velhos telefones estão com seus dias contados.

Após a extinção da televisão analógica, substituída pela TV digital (TNT - Televisão Numérica Terrestre, na França), eis o fim da telefonia fixa tradicional. Orange, ex-France Télécom, prepara a interrupção de sua rede telefônica fixa convencional. Os aparelhos telefônicos ligados a simples tomadas telefônicas nas paredes não soarão mais.

É certo que o processo levará tempo, mas no início  da próxima década a velha rede de telefonia fixa tradicional será extinta pouco a pouco. No jargão das telecomunicações, ela é designada como Sistema de Telefonia Fixa Comutada (STFC). Segundo o órgão regulador de telecomunicações francês, a Arcep, a França conta com 12 milhões de linhas STFC, ou seja um pouco mais de um terço das linhas totais existentes.

Para se beneficiar de uma linha física, será preciso então estar equipado com uma caixa chamada DSL (Digital Subscriber Line -- Linha de Assinante Digital) que se conectará entre o telefone e a tomada na parede. Trata-se de uma pequena sutileza do processo: a rede STFC será de fato interrompida, mas não os serviços ADSL [Asymmetric Digital Subscriber Line -- um tipo de tecnologia de DSL, uma tecnologia de comunicação de dados que permite transmissão de dados sobre linhas telefônicas de cobre mais rápida do que a provida por um modem de banda de voz] que funcionam também sobre condutores de cobre e que permitem telefonar, se conectar à internet ou ver televisão. A metade dos lares franceses já possui esse dispositivo. Os demais têm ainda alguns anos para se preparar. "Não é possível manter-se um mil-folhas tecnológico", sublinha Benoît Loutrel, diretor-geral da Arcep.

Orange ataca esse tema com bastante antecedência, porque deve avisar os usuários do STFC com pelo menos 5 anos de antecipação antes de interromper o serviço e antes que sua manutenção se torne problemática. Esquematicamente, para que uma rede como essa funcione é preciso ter de um lado um telefone e do outro um comutador. "Os comutadores são equipamentos antigos, datados dos anos 1970. Os fabricantes de equipamentos de telecomunicações não os produzem mais", explica Benoît Loutrel. Isso faz com que há anos sua manutenção se realize com a canibalização de equipamentos que não serão mais utilizados.

Carência de técnicos

Outro problema: os técnicos que dominam essa área já ultrapassada irão em breve se aposentar. "Formar jovens de 20 anos em uma tecnologia sem futuro não faz nenhum sentido", acrescenta um especialista do setor. É melhor pois interromper a STFC do que esperar por uma grande pane.

A retirada de cena dessa tecnologia terá também um efeito virtuoso sobre o meio ambiente, porque os comutadores consomem muito mais energia que os equipamentos que os substituirão.

O calendário já está em andamento. No quarto trimestre de 2018, alguém que queira instalar uma nova linha STFC já não poderá fazê-lo. Em troca, lhe serão propostos serviços via ADSL ou fibra ótica. A partir de 2021, uma nova etapa será franqueada. O serviço STFC será progressivamente cancelado, com um calendário diferente por região do país. Aos assinantes serão oferecidas uma ou duas soluções alternativas, em função das evoluções tecnológicas.

Duas profissões serão particularmente afetadas: os comerciantes e os ascensoristas. Os serviços de chamada de emergência dos elevadores são ainda muito frequentemente transmitidos via STFC. Neste caso, os copropietários envolvidos têm todo interesse em agir o quanto antes [da data limite], para evitar os picos de demanda e as altas de preços. Certos terminais de pagamento funcionam ainda via STFC, será preciso mudá-los. Não há porquê entrar em pânico, restam ainda pelo menos cinco anos, mas é melhor não deixar para o último momento. Outros serviços, como certas linhas de emergência, de tele-vigilância ou de tele-alarme dependem também do STFC e deverão ser modernizados. Um pequeno detalhe importante: um telefone conectado a uma linha STFC funciona mesmo em caso de pane elétrica. Os novos equipamentos, todos eles, precisam de um suprimento elétrico, o que poderá criar problemas para os serviços de emergência.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O apodrecer de um líder

O APODRECER DE UM LÍDER

Há pouco mais de três décadas, surgia do movimento sindical brasileiro um líder -- Luiz Inácio Lula da Silva --  que se revelou inegavelmente um dos maiores fenômenos políticos já vistos neste país. Durante esse período, ele reiterada e insistentemente submeteu o país a uma lavagem cerebral sobre sua absoluta honestidade e ética na política.

Mas, apesar disto, ainda na sua época de líder e dirigente sindical nos anos 1970/1980 Lula foi informante/dedo-duro/delator junto ao ao famigerado DOPS - Departamento de Ordem Política e Social, criado em 1924 para controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder. O órgão, que tinha a função de assegurar e disciplinar a ordem no país, foi instituído em 17 de de abril de 1928 pela lei nº 2304 que tratava de reorganizar a polícia do Estado. A denúncia, minuciosa e detalhada, ocupa todo o capítulo 4 ("Lula: Alcaguete e Aprendiz do DOPS", págs 51 a 70) e permeia outras páginas do livro "Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado" (Editora Topbooks, 2013) do advogado, delegado e ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior, filho do famoso delegado e ex-senador Romeu Tuma (o "Tumão"), que chefiou o DOPS paulista de 1977 a 1982, exatamente a época em que Lula atuou como alcaguete do Departamento (do qual era considerado o melhor informante). A denúncia jamais foi desmentida e contestada, quer na imprensa quer na justiça, por Lula, pelo Instituto Lula, pelo PT ou por quem mais seja. É evidente que alguém com a experiência policial de Romeu Tuma Junior não iria fazer uma denúncia dessa natureza sem estar devida e sobejamente documentado.  

Lula (a quem chamo de NPA - Nosso Pinóquio Acrobata, por razões óbvias) tanto fez e batalhou, que chegou à Presidência da República.

Infelizmente, para sua biografia e para seus fiéis seguidores, em oito anos diretamente no cargo e mais cinco de atuação nos bastidores, como uma espécie de Richelieu ou Rasputin tupiniquim (muito mal comparando), ele se revelou um tremendo mentiroso e um falsificador de personalidade, evidenciando defeitos e mazelas que jurava de pés juntos repudiar e combater mas que já trazia consigo desde sua época de dedo-duro do DOPS. Por trás da máscara de falsa ética confirmaram-se sistematicamente a mentira deslavada, a dissimulação cretina, o cinismo, a hipocrisia, a pilantragem e o profundo descaso pela inteligência e a opinião de terceiros e do país como um todo. Dois dos maiores escândalos da história republicana deste país, o mensalão e o petrolão, foram concebidos, amamentados e tutelados em seus governos, frutos de cópulas ora incestuosas ora combinadas e acertadas como nos grandes prostíbulos da história.

Cheio de empáfia, deslumbrado com o poder do cargo, com o prestígio adquirido e com a paixão cega de seus seguidores, esse cidadão deixou a corrupção rolar solta debaixo de seu nariz e de sua barba em benefício ora de seu partido, ora de apadrinhados seus. Isso de início. Mais recentemente, vêm surgindo inúmeros indícios sérios de relações no mínimo mal-cheirosas entre ele e filhos seus com empreiteiras envolvidas até o pescoço no petrolão. Em vez de dar explicações claras e inequívocas que permitam comprovar irrefutavelmente a inocência e o bom-mocismo que vive alegando, ele se fecha em copas, perdeu a voz e transformou o seu partido e Instituto que leva seu nome em seus porta-vozes e seus defensores. Os argumentos de sua defesa são idiotas e pilantras, acreditando que o país todo – e não apenas seus fidelíssimos seguidores masoquistas – é um bando de parvos.

No mensalão, esse cidadão voltou a mostrar outra faceta podre de sua personalidade: seu lado Judas.  No auge do escândalo, quando figurões de seu partido e de seu círculo íntimo foram presos (José Dirceu, Delúrbio Soares, José Genoíno, João Paulo Cunha e outros) ele declarou à televisão portuguesa RTP que "não se tratava de gente de sua confiança". 

Recentemente, seu lado Judas aflorou novamente, desta vez no petrolão. O senador Delcídio do Amaral, oportuna e felizmente trânsfuga do PSDB e líder do PT no Senado, foi (e continua) preso por tramar a fuga de ex-diretor da Petrobras e delator do petrolão para proteger-se e proteger o PT. Frequentemente interlocutor privilegiado e particular do petista ex-presidente da República, o senador foi por este criticado dubiamente ("ele fez besteira") e foi abandonado pelo PT. Como a alta direção do PT não dá um pum sem antes falar com seu líder e guru, é óbvio que a orientação para o abandono veio do ex-presidente da República.

A história cada vez mais imbricada e fétida do envolvimento do ex-presidente da República e de filho(s) seu(s) com a OAS e a Odebrecht em imóveis no Guarujá e em Atibaia, ambos em São Paulo, fez o malandro líder assumir a condição que lhe é mais fácil e mais conveniente: o papel de vítima. Este é também o papel mais safado. 

Desesperado com o derretimento de seu líder e guru, sua única esperança tremulante para 2018, e claramente pressionado por ele, o PT -- através de seu presidente Rui Falcão -- soltou um "manifesto" no dia 08 deste mês de fevereiro que começa dizendo: "Nunca antes neste País um ex-presidente da República foi tão caluniado, difamado, injuriado e atacado como o companheiro Lula. Inconformado com sua aprovação inédita ao deixar o governo, o consórcio entre a oposição reacionária, a mídia monopolizada e setores do aparelho de Estado capturados pela direita quer convertê-lo em vilão". Pronto, está tudo esclarecido: o inofensivo, o humilde, o desprotegido e desamparado, o inocente, o que nunca presenciou ou ouviu falar de escândalo algum, o líder que é vendido como uma águia por seu partido e por seus seguidores de repente vira uma pessoa absolutamente incapaz de ver e sentir o que de mais podre ocorre debaixo de suas axilas e de seu nariz. O cidadão que o PT e o Instituto Lula defendem tem que ser médica e legalmente interditado, e não protegido.

Lula NPA (Nosso Pinóquio Acrobata) vem há mais de 30 anos fazendo nosso ouvido de urinol e cometendo barbaridades contra a ética e contra o patrimônio moral e físico do país. Vamos deixar de palhaçada, cidadão -- tente pelo menos honrar as calças que veste.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

As causas dos 1.000 anos de inimizade entre católicos e ortodoxos

[Traduzo a seguir a reportagem de Daniel García Marco, publicada no site espanhol BBC Mundo. A tentativa de reaproximação com a igreja ortodoxa é um dos muitos gestos revolucionários do papa Francisco. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

É o primeiro encontro entre o Papa de Roma e o Patriarca de Moscou desde o cisma de 1054 - (Foto: Getty)

Nada dura para sempre, nem mesmo a inimizade. Os mais de 1.000 anos de rivalidade entre as igrejas católica e ortodoxa serão postos à prova na sexta-feira 12 com o  encontro em Havana entre o líder católico e o patriarca da igreja russa, a maior e mais influente da Ortodoxia.

Por isso, poucas vezes o qualificativo "histórico" esteve tão justificado.

A reunião de duas horas, na neutralidade do aeroporto da capital de Cuba, entre o papa Francisco e o patriarca Kiril é vista como um primeiro passo para a reconciliação entre as duas maiores igrejas em que se divide o cristianismo.

O BBC Mundo explica alguns pontos-chaves de uma divisão milenar e de um possível entendimento futuro.

O que aconteceu no ano de 1054?

Adata é simbólica. É o ponto final de uma divisão que se vinha gerando durante séculos. Em 1054, o Papa de Roma e o Patriarca de Constantinopla se excomungaram mutuamente e assim começou o que se conhece como o grande cisma do cristianismo, que persiste até hoje.

A diferença no conceito de autoridade é um dos divisores entre católicos e ortodoxos - (Foto: Getty)

Mas as igrejas cristãs do Oriente e do Ocidente já vinham se separando havia séculos, sobretudo culturalmente. No Ocidente se falava o latim, enquanto no Oriente bizantino prevalecia a cultura helenística grega. 

A questão, no entanto, ia mais além do cultural  e do linguístico. O enfrentamento, além das diferenças rituais, se apoia em aspectos doutrinários ou teológicos como o conceito de purgatório e a chamada "controvérsia trinitária". 

Enquanto no Ocidente se acredita no Espírito Santo e a ele se reza, que de acordo com as correntes  teológicas mais amplas na igreja ocidental "procede do pai e do filho", os ortodoxos prescindem da figura do filho. 

É o conflito pelo que em latim se denomina "filioque"("e do filho"). "Essa única palavra gerou concílios, guerras e mal-entendidos. Por ela, lutamos durante um milênio", afirma ao BBC Mundo Philip Goyret, vice-reitor da Universidade Pontifícia da Santa Cruz de Roma. 

Papa versus Patriarca 

Mas o tema-chave nesse relacionamento é o modo diferente de entender a função de quem manda na igreja. Na católica, a função do Papa se entende como a figura máxima em termos de autoridade. A igreja ortodoxa, ao contrário, está dividida em patriarcados, entre os quais existe uma igualdade. Há um, o de Constantinopla, ocupado atualmente por Bartolomeu, que é considerado o "primeiro entre iguais". 

Bartolomeu tem uma certa proeminência, mas não tem jurisdição sobre toda a igreja ortodoxa. Além disso, seu patriarcado, com sede em Istambul e com cerca de 10.000 fiéis, não tem o peso do de Moscou, que com Kiril à frente congrega cerca de 120 dos 200 milhões de crentes ortodoxos. Por seu lado, a igreja católica conta com cerca de 1,2 bilhão de fiéis. 

A igreja ortodoxa russa sempre esteve muito ligada ao poder, como foi com o imperador, com o czar ou com o secretário-geral do Partido Comunista na era soviética. Agora, Kiril, patriarca desde 2009, mantém uma estreita relação com o presidente russo Vladimir Putin. A oposição ao Kremlin critica habitualmente a sintonia entre a Igreja e o Estado. 

O patriarca Kiril e o presidente russo Vladimir Putin, com quem mantém estreita relação - (Foto: Getty)

Questão de poder

O cisma teve também muito o que ver com o poder. No século XVI, a Europa estava se evangelizando e começaram as disputas para ver a que igreja caberia uma determinada missão. "Houve um conflito de poderes", explica Goyret. E ele de alguma maneira persiste, e é fonte de tensões. 

Com a chegada do comunismo, e a criação do bloco soviético, a igreja católica na Ucrânia e na Rússia foi violentamente reprimida pelo Estado, que entregou os templos católicos à igreja ortodoxa. Quando caiu o Muro de Berlim os católicos recuperaram a liberdade religiosa e surgiu tensão, porque quiseram reaver o que havia sido seu. 

Os ortodoxos não toleraram bem nos últimos anos o que consideram como tentativas de expansão do catolicismo na Rússia. A criação de dioceses católicas no país pelo papa João Paulo II gerou inquietude em Moscou, que viu isso "como uma invasão", conta Goyret. 

Hoje em dia o conflito persiste na Ucrânia, onde a igreja católica greco-ucraniana, a segunda maior do país, tem ritos orientais mas se reporta a Roma, o que desgosta Moscou. 

Por que agora?

A ambas as igrejas as une neste momento a preocupação com a perseguição a cristãos, católicos e ortodoxos, e a destruição de monumentos cristãos na África e na Ásia, sobretudo pelas mãos do autodenominado Estado Islâmico na Síria. 

"Nesta trágica situação, temos de deixar de lado nossos desentendimentos internos e unir esforços para salvar o cristianismo nas raegiões em que é objeto de perseguição", afirmou Hilarion Alfeyev, chefe de política externa da igreja ortodoxa russa. 

Datas-chaves do cisma e da aproximação

1054 - O Papa de Roma e o Patriarca de Constantinopla se excomungam mutuamente

Março de 2013 - O Patriarca de Constantinopla comparece à posse de Francisco como Papa

Novembro de 2014 - O Papa estende a mão a Kiril: "Irei onde queiras. Chama-me e vou"

12 de fevereiro de 2016 - O Papa e o Patriarca da igreja ortodoxa russa se reúnem pela primeira vez em 1.000 anos 

Mas, Goyret acredita que a hipotética unidade futura entre as igrejas é o tema que está por trás de tudo. "O fato de estarem divididas é escandaloso, e prejudica a evangelização de maneira muito séria. Tira credibilidade ao cristianismo", opina o especialista. 

De acordo com o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi: "O encontro é de uma importância extraordinária no caminho das relações ecumênicas e do diálogo entre as confissões religiosas". 

Como foi gerado o encontro

Já há anos as igrejas haviam dado mostras de querer se aproximar. Comissões de uma e outra se deslocaram para Roma e Moscou. 

Ao sair à janela da Praça São Pedro recém-eleito papa no 13 de março de 2013, Francisco se apresentou simplesmente como "bispo de Roma". "Essa relação bispo-povo é algo muito apreciado no Oriente", explica Goyret.  

O patriarca Bartolomeu apreciou esse gesto do papa de entender a igreja como um conjunto de dioceses autônomas não centralizadas em Roma, e por isso acudiu ao Vaticano quando Francisco tomou posse. Era a primeira vez na história em que o Patriarca de Constantinopla estava presente a esse ato

O Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu se reuniram em Istambul  em 2014 - (Foto: Getty)

E foi um feito simbólico que não passou despercebido em Moscou. Em novembro de 2014, o novo Papa estendeu  a mão a Kiril: "Irei onde queiras. Chama-me e vou", se ofereceu. E o patriarca russo respondeu positivamente à sua iniciativa. 

A ambos os une a preocupação com o meio ambiente, mas não é apenas isso. "Que o Papa tenha se distanciado dos liberalismos econômicos extremos é algo também compartilhado", afirma Goyret. 

E a partir de agora?

A unidade do cristianismo não acontecerá de um dia para o outro, mas o encontro aparece como uma tentativa de deflagrar um processo que exigirá concessões de ambas as partes.

Do ponto de vista católico, essa aproximação faz parte das reformas que Francisco quer fazer avançar. Entre elas, a que a primazia papal não seja um obstáculo à unidade da igreja.

O papa busca a aproximação das igrejas cristãs como meta de seu papado - (Foto: Getty)

"Essas são palavras fortes, porque o chamado 'ministério petrino' vem da vontade de Cristo", explica Goyret. Do lado ortodoxo, "o problema é ao contrário", diz ele, devido à falta de uma chefia clara. 

A igreja ortodoxa vem tentando reunir-se em um sínodo (que a igreja católica chama de concílio) há mais de 50 anos. Por não haver uma autoridade central, não há quem possa convocá-lo, mas finalmente será celebrado em junho na ilha de Creta, na Grécia. 

Talvez Kiril encontre mais tensões internas que Francisco. "As forças conservadoras em Moscou disseram que não lhes agrada a reunificação com o Ocidente, porque isso os enfraquece", afirma Chad Pecknold, teólogo da Universidade da América, nos EUA.

[Detalhamento das principais diferenças entre a Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa e a Igreja Católica Apostólica Romana, na visão dos ortodoxos: 

As diferenças fundamentais são a questão da infalibilidade papal e a reivindicação de supremacia universal da Sé de Roma, o que a Igreja Ortodoxa não admite, pois ferem frontalmente a Sagrada Escritura e a Santa Tradição.
 Existem, ainda, outras distinções, abaixo relacionadas em dois grupos básicos: 


DIFERENÇAS GERAIS:


São dogmáticas, litúrgicas e disciplinares.

A Igreja Ortodoxa só admite sete Concílios, enquanto a Romana adota vinte.

A Igreja Ortodoxa ensina que o Espírito Santo procede unicamente do Pai, conforme afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano, e não do Pai e do Filho, conforme o ensino da Igreja Romana, que resolveu no ano de 1014 dC aceitar a modificação imposta pelo Imperador Carlos Magno no Séc. IX, adulterando assim o texto do Credo e, principalmente, a noção da Ontologia Trinitária.

A Sagrada Escritura e a Santa Tradição tem o mesmo valor como fonte de Revelação, segundo a Igreja Ortodoxa, pois na Bíblia se tem o ensinamento Divino e, na Tradição a correta interpretação, ambas fruto do Sopro de Deus, o Espírito Santo. A Romana, no entanto, considera a Tradição mais importante que a Sagrada Escritura.

A consagração do pão e do vinho, durante a missa, no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, efetua-se pelo Prefácio, Palavra do Senhor e Epíclese, e não pelas expressões proferidas por Cristo na Última Ceia, como ensina a Igreja Romana.

Em nenhuma circunstância, a Igreja Ortodoxa admite a infalibilidade do Bispo de Roma. Considera a infalibilidade uma prerrogativa de toda a Igreja e não de uma só pessoa.

A Igreja Ortodoxa entende que as decisões de um Concílio Ecumênico são superiores às decisões do Papa de Roma ou de quaisquer hierarcas eclesiásticos.

A Igreja Ortodoxa não concorda com a supremacia universal do direito do Bispo de Roma sobre toda a Igreja Cristã, pois considera todos os bispos iguais. Somente reconhece uma primazia de honra ou uma supremacia de facto (primus inter pares).

A Virgem Maria, igual às demais criaturas, foi concebida em estado de pecado ancestral. A Igreja Romana, por definição do papa Pio IX, no ano de 1854, proclamou como "dogma" de fé a Imaculada Concepção.

A Igreja Ortodoxa nega a existência do limbo e do purgatório.

A Igreja Ortodoxa não admite a existência de um Juízo Particular para apreciar o destino das almas, logo após a morte, mas um só Juízo Universal.

O Sacramento da Santa Unção pode ser ministrado várias vezes aos fiéis em caso de enfermidade corporal ou espiritual, e não somente nos momentos de agonia ou perigo de morte, como é praticado na Igreja Romana.

Na Igreja Ortodoxa, o ministro habitual do Sacramento do Crisma é o Padre; na Igreja Romana, o Bispo, e só extraordinariamente, o Padre.

A Igreja Ortodoxa não admite a existência de indulgências.

No Sacramento do Matrimónio, o Ministro é o Padre e não os contraentes.

Em casos excepcionais, ou por graves razões, a Igreja Ortodoxa acolhe a solução do divórcio admitindo um segundo ou terceiro casamento penitencial.

São distintas as concepções teológicas sobre religião, Igreja, Encarnação, Graça, imagens, escatologia, Sacramentos, culto dos Santos, infalibilidade, Estado religioso... 


DIFERENÇAS ESPECIAIS:


Além disso, subsistem algumas diferenças disciplinares ou litúrgicas que não transferem dogma à doutrina. São, nomeadamente, as seguintes:

1- Nos templos da Igreja Ortodoxa só se permitem ícones.
2- Os sacerdotes ortodoxos podem optar livremente entre o celibato e o casamento.
3- O batismo é por imersão.
4- No Sacrifício Eucarístico, na Igreja Ortodoxa, usa-se pão com levedura; na Romana, sem levedura.
5- Os calendários ortodoxo e romano são diferentes, especialmente, quanto à Páscoa da Ressurreição.
6- A comunhão dos fiéis é efetuada com pão e vinho; na Romana, somente com pão.
7- Na Igreja Ortodoxa, não existem as devoções ao Sagrado Coração de Jesus, Corpus Christi, Via Crucis, Rosário, Cristo-Rei, Imaculado Coração de Maria e outras comemorações análogas.
8- O processo da canonização de um santo é diferente na Igreja Ortodoxa; nele, a maior parte do povo participa no reconhecimento do seu estado de santidade.
9- Existem, três ordens menores na Igreja Ortodoxa: leitor, acólito e sub-diácono; na Romana: ostiário, leitor e acólito.
10- O Santo Mirão (Crisma) e a Comunhão na Igreja Ortodoxa efetuam-se imediatamente após o Batismo.
11- Na fórmula da absolvição dos pecados no Sacramento da Confissão, o sacerdote ortodoxo absolve não em seu próprio nome, mas em nome de Deus - "Deus te absolve de teus pecados"; na Romana, o sacerdote absolve em seu próprio nome, como representante de Deus - "Ego absolvo a peccatis tuis...."
12- A Ortodoxia não admite o poder temporal da Igreja; na Romana, é um dogma de fé tal doutrina.

Os Dez Mandamentos

A Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa conservou os dez mandamentos da Lei de Deus na sua forma original, sem a menor alteração. O mesmo não sucedeu com o texto adoptado pela Igreja Católica Apostólica Romana, no qual os dez mandamentos foram arbitrariamente alterados, tendo sido totalmente eliminado o segundo mandamento ("Não adorar ídolos", segundo os ortodoxos)  e o último dividido em duas partes, formando dois mandamentos distintos. Esta alteração da Verdade constitui um dos maiores erros teológicos desde que a Igreja Romana cindiu a união da Santa Igreja Ortodoxa no século XI. Esta modificação nos dez mandamentos, introduzidos pelos papas romanos, foi motivada pelo Renascimento das artes. Os célebres escultores daquela época tiveram um amplo leque de atividades artísticas, originando obras de grande valor. Não obstante, as esculturas representando Deus, a Santíssima Virgem Maria, os santos e os anjos estavam em completo desacordo com o segundo mandamento de Deus. Havia, pois, duas alternativas, ou impedir a criação de estátuas ou suprimir o segundo mandamento. Os papas escolheram esta última solução, caindo em grave erro.

Há ainda outra explicação para o intensivo uso de imagens pela Igreja de Roma -- este acréscimo é meu e não da fonte utilizada acima. Devido ao alto nível de analfabetismo entre os fiéis, dizem outras fontes, a Igreja de Roma teria decidido recorrer fortemente às imagens para reforçar e consolidar a adesão de seus seguidores.]