sábado, 30 de abril de 2016

Álcool, drogas, suicídios -- os americanos brancos de 45 a 54 anos estão sendo dizimados

[Traduzo a seguir a análise do livro "Rising morbidity and mortality in midlife among white non-Hispanic Americans in the 21st century" ("Morbidez e mortalidade crescentes na meia-idade entre americanos brancos não-hispânicos no século 21") - Angus Deaton (Prêmio Nobel de Economia 2015) et al, Proceedings of the National Academy of Sciences (USA), Novembro 2015, feita por Jean-Pierre Robin no jornal francês Le Figaro de 16/11/2015. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.] 

Angus Deaton, Prêmio Nobel de Economia 2015 - (Foto: Jewel Samad/AFP)

A epidemia de Aids, que custou a vida de 650.000 americanos depois dos anos 1980, está hoje sob controle. Mas, uma outra hecatombe, ligada desta vez ao álcool, às drogas e aos suicídios, está grassando nos EUA com uma amplitude comparável. É nestes termos que Angus Deaton apresenta suas descobertas publicadas em novembro de 2015 pela Academia Nacional de Ciências dos EUA. 

Não se pode acusar o Prêmio Nobel de Economia de 2015 de tirar proveito de sua aura internacional para "se promover"-- a divulgação do estudo, realizado com sua esposa Anne Case, economista em Princeton, estava programada de longa data. Os autores demonstram que após duas décadas de diminuição de 2% ao ano, a mortalidade dos "americanos brancos não-hispânicos de 45 a 54 anos" recomeçou a crescer em 0,5% a cada ano a partir de 1999 e até 2013 ("Morbidez e mortalidade crescentes na meia-idade entre americanos brancos não-hispânicos no século 21").

A formulação de estatísticas étnicas americanas surpreende à primeira vista um francês. Mas, no caso, ela é essencial nas análises do casal Case-Deaton: o aumento de mortalidade que observaram refere-se exclusivamente aos "brancos não-hispânicos" de idade madura. Essa taxa de mortalidade passou de 371,5 (por 100.000) em 1998 para 415,4 em 2013. Ao contrário, a mortalidade dos hispânicos de mesma idade de mesma idade diminuiu (de 333,2 para 269,6). A queda é ainda mais pronunciada para os negros (796,7 em 1998 para 581,9 em 2013).

Essa sobremortalidade recente atinge indiferentemente homens e mulheres. Ela surpreende ainda mais por ser a única entre os países "ricos". Os dois economistas registram que nos seis países analisados (Austrália, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido e Suécia) a mortalidade na faixa etária de 45 a 54 anos continuou a diminuir. Na França, ela passou de 420 mortos (por 100.000) em 1999 para 375 em 2013.

[Eis o gráfico correspondente, no estudo Case-Deaton

Fig. 1 - Mortalidade por todas as causas, na faixa etária de 45-54 anos, para Americanos Brancos Não-Hispânicos (USW), Americanos Hispânicos (USH), e seis países comparativos: França (FRA), Alemanha (GER), Reino Unido (UK), Canadá (CAN), Austrália (AUS) e Suécia (SWE).]

A "epidemia" que dizima os "americanos brancos" após uma quinzena de anos não tem precedentes no outro lado do Atlântico. No máximo, "havia sido observada uma pausa na redução na redução da mortalidade durante os anos 1960, grandemente explicável pela mudanças históricas no tabagismo", lembram os autores. Eles excluem um possível "efeito de geração": "Os americanos nascidos entre 1945 e 1965 não haviam apresentado taxas de mortalidade particularmente elevadas antes de chegar à meia-idade". O corte  entre os decênios 1978-1998, de um lado, e os quinze anos seguintes é incrível. Se a tendência anterior tivesse se prolongado, "488.500 mortes teriam sido evitadas, das quais 54.000 em 2013", calcularam os autores. A hecatombe atual é da mesma ordem que as 650.000 mortes ligadas à Aids que castigou os americanos entre 1981 e 2015, acrescentam eles. 

Os autores frisam que são os primeiros a expor a sobremortalidade dos "americanos brancos não-hispânicos de 45 a 54 anos", sob o risco de irritar seu público com essa denominação refinada. Mas, todo o valor de sua descoberta vem desse luxo de precisão! Assim, os CDC -- os centros de controle e de prevenção de doenças que estabelecem as estatísticas de mortalidade nos EUA, não identificaram o fenômeno "porque sua explicação exige uma decomposição das cifras segundo a idade e a raça"(sic). Desculpem, mas o Nobel de 2015 usa essa expressão! 

"Saúde mental ruim"

Os três males que castigam hoje o americano branco não-hispânico são perfeitamente identificáveis: álcool, drogas, suicídios. Quanto às suas progressões maléficas, elas são igualmente mensuráveis. O casal Case-Deaton chegou a uma estatística macabra -- drogas: 30,1 mortos por 100.000; suicídios: 25,5; álcool: 21,1. Para cada uma dessas três "causas externas" de morte, a maioria branca dos americanos de idade madura exibe de agora em diante resultados mais desfavoráveis que as "minorias" (sic). Ocorria o inverso há quinze anos. Há que se observar entretanto dois fatores de melhora, os óbitos por câncer de pulmão decresceram assim como as mortes ligadas a meios de transporte. Quanto à obesidade, frequentemente apresentada como o flagelo da classe média: "ela não se constituiu em uma ameaça crescente na história recente", avaliam os autores.

Por outro lado, o aumento da mortalidade afeta especificamente as categorias de menor nível de educação, aumentando em 20% em quinze anos  para os americanos que, no melhor dos casos, tem um diploma do curso secundário. Ao contrário, para os diplomados de curso superior sua taxa de mortalidade continuou a diminuir.

Além disso, os americanos estão completamente conscientes de que sua saúde se deteriora: as pessoas de 45-54 anos são quatro vezes mais numerosas a se queixar, nas pesquisas, "de sua saúde mental ruim", e os que se declaram "incapazes de trabalhar" dobraram após quinze anos.

Apesar da riqueza de seu diagnóstico, os autores avaliam "que a deterioração da morbidez e da mortalidade dos americanos brancos não-hispânicos de meia-idade foi apenas parcialmente elucidada". Como explicar os abusos de drogas? O consumo de heroína avançou em 63% por causa do endurecimento no controle dos analgésicos à base de morfina? Da mesma forma, os dois economistas assinalam a degradação debilitante da renda da classe média a partir de 1990, ou a fragilização das aposentadorias ligada às incertezas dos mercados financeiros. Se se abstêm de concluir, eles não falam menos de "geração perdida" a propósito desses americanos de idade madura.

"Habitualmente, quando surge uma nova tendência nos EUA isso é frequentemente (mas não sempre) um presságio do que ocorrerá 10 ou 15 anos mais tarde nas outras economias desenvolvidas. Toda "Schadenfreude" [alegria com a desgraça alheia] seria inoportuna", adverte Eric Chaney, economista-chefe do grupo Axa. Não nos alegremos com os problemasda sociedade americana!

[PS - Quando é que veremos publicado algo pelo menos parecido sobre nossa sociedade?!]


quinta-feira, 28 de abril de 2016

A história recente do Brasil não é a que Dilma e sua turma querem nos impingir

Nesta altura do campeonato, o Brasil inteiro -- inclusive os 54 milhões de masoquistas que a reelegeram -- sabem de mão cheia que além de inteiramente incompetente e desastrosa, Dilmanta NPS (Nosso Pinóquio de Saia) é uma requintada e contumaz mentirosa. Sua mentiras são históricas e não se resumem apenas ao conjunto de inverdades que compôs o incrível estelionato eleitoral de outubro de 2014.

A principal mentira histórica que nossa (govern)anta insiste em contar, apoiada pelo PT, é que ela e seus companheiros de luta armada pegaram em armas para defender a democracia no país. Esse discurso, decorado por todos os guerrilheiros da época que ainda convivem conosco e que tentaram e ainda tentam fazer de  Dilmanta uma versão muito estropeada de Joana d'Arc tupiniquim, é uma mentira deslavada. Essa turma pegou em armas para combater a ditadura militar não para implantar aqui uma democracia, mas sim para aqui instaurar a ditadura do proletariado. Vídeos a seguir, de companheiros de luta armada de Dilmanta insuspeitos como Eduardo Jorge e Fernando Gabeira desmentem a versão de Dilmanta. Eduardo Jorge foi militante ativo e ferrenho do PT até 2003 quando, decepcionado e desiludido com a atuação do partido, abandonou a sigla, como ele mesmo declara em vídeo.

A figura de Dilmanta como uma democrata de formação é um conto do vigário.

Começarei com o vídeo do discurso memorável e contundente do senador Magno Malta (PR-ES) no Senado em 25 de abril corrente, que jogou por terra definitivamente toda a argumentação nítida e inequivocamente mentirosa e fantasiosa da quadrilha Dilmanta, Lula BL (Boca de Latrina) e PT contra o impeachment. Foi sintomático, embora constrangedor, ver o silêncio dos senadores e senadoras do governo diante das verdades contundentes de Magno Malta.


 

Apresento a seguir os depoimentos  de Fernando Gabeira e Eduardo Jorge, citados por Magno Malta em seu discurso.

Fernando Gabeira é conhecido pela sua atuação no Partido Verde brasileiro (do qual é membro-fundador), defendendo posições polêmicas em questões consideradas como tabus na cultura política brasileira (como a profissionalização da prostituição, o casamento homossexual e a descriminalização da maconha). É conhecido também por ter participado da luta armada contra a ditadura como militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro, que tentava instaurar o socialismo no Brasil. Ele não era um guerrilheiro propriamente dito, mas trabalhava como repórter do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro.

Em 1970, Gabeira foi preso na cidade de São Paulo. Resistiu à prisão e tentou fugir em direção a um matagal que existia por perto. Vários tiros foram disparados e um deles atingiu suas costas, perfurando rimestômago e fígado. Encarcerado, recebeu a liberdade em junho do mesmo ano tendo sido trocado com outros 39 presos pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, que também havia sido sequestrado. O grupo foi banido do país e exilado para a Argélia. Ao longo de quase uma década, esteve em vários países dentre os quais o Chile, a Suécia e a Itália. Na Suécia, onde passou a maior parte da vida, formou-se em Antropologia na Universidade de Estocolmo e exerceu a profissão de repórter e até a função de condutor de metrô em Estocolmo. Voltou ao Brasil em 1979 onde passou, então, a atuar como jornalista e escritor, defendendo o fim do regime militar.


Apresento um vídeo compacto, em que Gabeira desmente aqueles que afirmam que a luta armada no Brasil destinava-se a implantar um regime democrático no país -- o objetivo real era a instalar por aqui a ditadura do proletariado. Gabeira desmente também Lula BL, quando este afirma que Cuba é uma democracia socialista.




Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho estudou Medicina na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, entre 1968 e 1973. Especializou-se em Medicina Preventiva, na Universidade de São Paulo (USP), entre 1974 e 1975, e em Saúde Pública, também na USP, em 1976. Militou no movimento estudantil e no PCBR, em João Pessoa, a partir de 1968. Preso e processado por duas vezes - em João Pessoa, entre 1969 e 1970, e em São Paulo, entre 1973 e 1974), com base na Lei de Segurança Nacional. Atuou em movimentos populares na periferia de São Paulo, a partir de 1974, e organizou os primeiros conselhos populares de saúde, em 1978. Trabalhou como médico sanitarista da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.

Foi deputado estadual e federal pelo Partido dos Trabalhadores em várias legislaturas, de 1983 a 2003. Em 1991 propôs a remoção das marcas comerciais de medicamentos, um pontapé inicial para os futuros medicamentos genéricos. Porém, divergências com o partido que ajudou a fundar levaram-no a filiar-se ao Partido Verde, em 2004. É co-autor da legislação constitucional sobre Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência Social) e autor ou co-autor de leis brasileiras que regulamentam os medicamentos genéricos, o planejamento familiar e a esterilização voluntária; das leis de vinculação de recursos orçamentários para o SUS e de restrição ao uso do amianto, bem como da lei orgânica da assistência social.

Foi candidato a presidente da República na eleição presidencial em 2014. Acabou virando meme durante sua campanha presidencial, por dizer várias frases engraçadas nos debates, como "Eu não tenho nada a ver com isso". Ficou em 6º lugar, com 0,61% dos votos (630.099).

Apresento três vídeos com Eduardo Jorge, dois deles de mesmo teor, só que o primeiro é compacto, e um terceiro vídeo em que ele explica porque saiu do PT.











Todos os vídeos acima põem nossa história recente e atual em seus devidos termos, e comprovam irrefutavelmente que Dilma é uma farsante de longa data, que se apresenta ao país como uma democrata e uma mártir da democracia, quando a verdade é bem outra -- ela pegou em armas e ajudou seu grupo militar a assaltar, sequestrar e matar para tentar implantar aqui um regime comunista.

Os vídeos comprovam também que todos aqueles que a defendem e lhe dão suporte na alta cúpula do PT, liderados por Lula BL, são igualmente mentirosos conscientes e cúmplices da mesma farsa por ação e omissão.

Esses mesmos vídeos confirmam igualmente o embuste que foi a chamada Comissão Nacional da Verdade, que abordou o período da luta militar contra a ditadura com a visão maniqueísta e escandalosamente deturpada e parcial de que do lado da ditadura só havia demônios e bandidos, e do lado dos guerrilheiros só havia mocinhos e anjinhos. Abordei isso em detalhe em postagem anterior (Comissão Nacional da Verdade Parcial).

Como é menstruar no espaço para as mulheres astronautas?

[Traduzo a seguir artigo publicado no site BBC Mundo.]

No passado, a menstruação era vista como um impedimento para que as mulheres fossem ao espaço - (Foto: Nasa)

O corpo humano experimenta muitas mudanças no espaço. Os músculos se enfraquecem, o coração muda de forma e tamanho, perde-se densidade óssea ... entretanto, há algo que não muda em nada: a menstruação. 

Não importa que não exista gravidade, o ciclo menstrual da mulher funciona no espaço da mesma forma que na Terra. "O fluxo de sangue menstrual não se vê afetado pela falta de gravidade, não flui de volta para o corpo", escreveu recentemente a ginecologista espacial Varsha Jain no site acadêmico The Conversation do King's College de Londres.

A quê se  deve isso? 

"O hormônio folículo-estimulante, responsável por ativar o ciclo menstrual, não é afetado em uma viagem espacial", disse a Dra. Jain ao BBC Mundo. 

Segundo a pesquisadora e membro do departamento de Obstetricia e Ginecologia do Instituto Nacional para Pesquisa da Saúde do Reino Unido, foram feitos vários estudos analógicos na Terra simulando o ambiente espacial. Tampouco nesses casos o hormônio responsável pela menstruação se viu afetado. 

As mulheres que foram ao espaço não relataram problemas com a menstruação - (Foto: Getty)

Jain acrescentou que inclusive em trabalhos feitos com animais enviados ao espaço os resultados foram similares. 

Mas os cientistas não conseguiram determinar a razão exata pela qual esse hormônio permanece intacto, quando o resto do corpo necessita adaptar-se ao fato de estar flutuando. O que sabem é que o fato de não se produzirem mudanças é um indicativo de que o período não depende da gravidade. Talvez seja porque, tal e como sugere Jain, "o corpo sabe que precisa se desfazer dele". 

Mais poder

E para a especialista, essas são boas notícias. "Quanto menos o corpo mudar no espaço, melhor". No passado, o fato das mulheres menstruarem era visto como um impedimento para que fossem astronautas. 

Para os especialistas, quanto menos mudar o corpo no espaço, melhor - (Foto: Getty)

"Alguns argumentavam que a menstruação poderia afetar a habilidade da mulher", escreveu recentemente Adam Cole, jornalista científico da cadeia americana Rádio Público Nacional. 
Nos anos 40 se demonstrou que isso que isso não era certo. "Mas a ideia não morreu ali", acrescentou ele. 

Outras teorias quanto a menstruar no espaço falavam dos efeitos da microgravidade e como o sangue podia subir pelas trompas de Falópio e chegar ao abdômen, provocando dor e outros problemas de saúde. 

"Mas, na realidade ninguém fez experiências para comprovar se isso era um problema, assim pois não havia dados para apoiar ou refutar esses temores", explicou o jornalista. "Até onde sabemos, e pelo que nos contam as próprias astronautas, as mulheres que optaram por menstruar no espaço asseguram que não tiveram problemas", explicou a Dra. Jain.

Para essa especialista, uma vez comprovado que o período menstrual não é um impedimento para ir ao espaço, o fato de lidar com fluxos de sangue em um ambiente sem gravidade pode ser uma situação que muitas mulheres astronautas prefiram evitar. "Felizmente para elas, existem hoje formas de deter a menstruação".

A primeira mulher a ir ao espaço foi Valentina Tereshkova, em 1963 - (Foto: Getty)

Se bem que não haja um consenso sobre recomendar a supressão completa da menstruação, Jain assegura que a maioria dos especialistas sugere que não há efeitos disso no largo prazo para a saúde da mulher. 

"Isso é importante, porque se trata de dar mais poder à mulher", assinala a especialista. "Se as astronautas no espaço podem optar por não menstruar por longos períodos, outras mulheres com trabalhos específicos (na Terra) poderiam fazer o mesmo". 

Entretanto, o fato da menstruação não ser afetada é um tema a se ter em conta para missões mais longas ao espaço, como uma viagem a Marte.  

Independentemente de que a mulher escolha ou não menstruar, na nave deve haver espaço tanto para as milhares de pílulas que ajudem a controlar o período como para os produtos sanitários. 

Ver também (em espanhol):






domingo, 24 de abril de 2016

O Holocausto: suas vítimas não foram apenas os judeus, diz historiador israelense

[Traduzo a seguir um artigo inusitado e muito importante de Daniel Blatman, publicado no prestigioso jornal israelense Haaretz. Pela primeira vez em toda a minha vida vejo judeus tendo a coragem de declarar em público que no Holocausto não foram vitimados apenas judeus, mas também milhões de outras pessoas de outras etnias e raças, com destaque para ciganos e poloneses, além prisioneiros soviéticos, homossexuais e vítimas de eutanásia. Isso significa dizer que, ao contrário do que se propaga, os judeus não foram as únicas grandes vítimas do Holocausto. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. O autor do artigo é um historiador da Universidade Hebraica de Jerusalém.]

Um policial alemão interroga uma cigana - (Foto: Arquivos Federais Alemães)

A tragédia de milhões de não-judeus vítimas dos nazistas merece ser lembrada e reconhecida, como apontam os autores de um livro recente. Entretanto, embora sua iniciativa seja digna de louvor, ela não atingiu seu objetivo.

“Hakorbanot Haloyehudim shel Hamishtar Hanazi” ("As Vítimas Não-Judaicas do Regime Nazista"), editado por Yair Auron e Sarit Zaibert, publicado pelos próprios autores (em hebraico), 207 págs, 60 shekels (R$ 55,87). Pode ser comprado pela internet via saraz1@13.net .

Nos anos 1970, surgiu uma discussão violenta entre o caçador de nazistas Simon Wiesenthal e dois destacados historiadores do Holocausto, Yehuda Bauer e Michael Marrus. O tema da discussão: Quem deve ser classificado como uma vítima do Holocausto? Wiesenthal insistia em que o número total de vítimas foi de 11 milhões -- seis milhões de judeus e outros cinco milhões de vítimas de outros países, entre eles os ciganos e os poloneses. Os dois historiadores judeus discordaram veementemente e argumentaram que Wiesenthal não podia fornecer nenhuma prova concreta daquele número: cinco milhões de vítimas a mais do genocídio nazista.

Essa, entretanto, não era uma discussão sobre o número de vítimas; talvez fosse uma discussão numerológica. A discordância referia-se à identidade das vítimas nazistas. "Os seis milhões" era uma expressão de significado quase místico, que havia deitado raízes no consciente coletivo e na memória do Holocausto sustentada em vítimas  e manipulada em Israel e no mundo judaico. Trata-se de um tabu intocável, e violá-lo com a inclusão de outras vítimas ameaça a crença pseudorreligiosa na unicidade/singularidade do Holocausto, que é uma componente fundamental da identidade da sociedade israelense.

Quebrar o tabu acarretaria lidar com uma memória coletiva diferente, assim como reconhecer que o nazismo era muito mais do que o inimigo tão  somente dos judeus -- que ele era o inimigo de toda a humanidade. Além dos judeus, os nazistas assassinaram milhões de outras pessoas apenas porque pertenciam a um grupo que o nazismo decretou como não merecendo existir. Cada um desses grupos tinha sua própria história específica. E a tragédia de cada um deles merece ser lembrada como parte de um amplo mosaico de memórias, no qual um espaço igualitário é concedido a todas as vítimas do nazismo e às vítimas de outros genocídios.

O livro modesto editado por Yair Auron e Sarit Zaoibert tenta cumprir essa missão, que é de importância histórica crucial, mas o que consegue é principalmente transmitir uma crucial mensagem humana. É uma missão quase impossível no Israel violento, racista e protofascista de 2016. A característica dos artigos do livro e o material de algumas de suas fontes sugerem que ele está direcionado a alunos do curso secundário ou ao leitor genérico, que quer ampliar seu conhecimento sobre um assunto em relação ao qual quase não há textos disponíveis em hebraico. E embora a iniciativa dos editores seja bem-vinda, o resultado é decepcionante e até mesmo piegas.

A coletânea consiste de um grupo de artigos sobre vítimas não-judaicas do nazismo: ciganos, Testemunhas de Jeová, vítimas de eutanásia, homossexuais e outros prisioneiros de campos de concentração. Há também um texto genérico sobre a política de melhoria racial perseguida pela Alemanha nazista. Adicionalmente, matérias de várias fontes são anexadas aos artigos, embora não compartilhem um denominador comum. Elas consistem de testemunhos e memórias, trechos da autobiografia de Gunter Grass "Peeling the Onion" ("Descascando a Cebola"), passagens literárias, uma seção de uma peça sobre homossexuais nos campos de concentração, passagens sobre locais celebrativos (memoriais). [Gunter Grass (Danzig16 de outubro de 1927 – Lübeck13 de abril de 2015) foi um autorromancistadramaturgopoetaintelectual, e artista plástico alemão. Sua obra alternou a atividade literária com a escultura, enquanto participava de forma ativa da vida pública de seu país. Recebeu o Nobel de Literatura de 1999. Também é reconhecido como um dos principais representantes do teatro do absurdo da Alemanha. Seu nome é por vezes grafado Günter Graß].

Se o objetivo era tornar acessível material que sensibiliza o público mais jovem, os editores deveriam ter sido melhor assessorados para dedicar tempo e esforço para incluir testemunhos importantes de sobreviventes dos vários grupos de vítimas cobertos pelo livro. Numerosos testemunhos desse gênero estão atualmente disponíveis, com exceção dos infelizes que foram assassinados no programa de eutanásia, dos quais obviamente não há sobreviventes. Até no caso dos homossexuais -- um grupo cujo destino não foi investigado durante muitos anos, por causa da relutância dos sobreviventes em ver suas histórias tornadas públicas -- há hoje material básico disponível muito mais importante do que o fornecido pelo livro. 

As pesquisas históricas que constituem a espinha dorsal do livro não são de uma qualidade uniforme. Em contraste com vários artigos que apresentam uma explicação ordenada e adequada de seus temas, como o artigo de Moshe Zimmerman sobre homossexuais e sobre os chamados elementos "associais", e o artigo de Nira Feldman sobre as vítimas de eutanásia, os outros artigos são superficiais e desatualizados e até errados ou incorretos na interpretação que apresentam. 

Um exemplo é o artigo de Yehuda Bauer sobre os ciganos. Indubitavelmente, apesar de ser ele um celebrado pesquisador do Holocausto, o  trabalho acadêmico de Bauer não está identificado com o genocídio de ciganos. Sua contribuição no livro é o abstrato ou resumo de de um artigo que escreveu há um tempo atrás sobre o assunto. Estudos importantes sobre o tema foram escritos desde então por pesquisadores alemães e americanos, e eles deveriam ter sido citados. Na realidade, os ciganos deveriam ter recebido um tratamento mais exaustivo e completo no livro, porque são um grupo étnico cuja perseguição e assassinato derivaram da mesma visão racista global subjacente à perseguição e ao assassinato dos judeus.

Ainda mais confusa é a pesquisa feita pelo historiador Gideon Greif sobre os prisioneiros dos campos de concentração no período inicial, até a deflagração da Segunda Guerra Mundial em 1939. O objetivo declarado do livro ora analisado é tratar das vítimas não-judaicas do nazismo. Ainda assim, Greif tenta de todas as maneiras possíveis incluir os judeus -- um grupo pequeno e não particularmente central entre os prisioneiros dos campos até o "Massacre de novembro" em 1938 -- e mesmo então, apenas por um curto período. Nenhuma menção é feita, por exemplo, ao fato de que a rede de campos de concentração não foi criada ou direcionada para servir à política antijudaica nazista nos anos 1930.

Em vários pontos, Greif quase se desculpa pelo fato de não haver judeus entre os prisioneiros que foram mandados para os campos de concentração antes do rompimento da guerra.  A razão é que eles, judeus, não eram classificados como opositores políticos sujeitos a perseguição, ou que nenhum judeu se encaixava na definição vaga de pessoas "associais". No entanto, quando Greif efetivamente apresenta um testemunho, ele é de um prisioneiro judeu.

Erros corriqueiros aparecem também na pesquisa não convincente de Greif. Por exemplo, ele sustenta que não havia lei nos campos e que a violência dos nazistas era arbitrária e administrada segundo leis não escritas, especificadas pela S.S. [S.S. = Schutzstafel = Tropa de Proteção]. Na realidade, esse foi o período em que as operações nos campos de concentração eram moldadas por seu primeiro comandante, Theodor Eicke. O código de gestão desses campos que Eicke escreveu era um documento vinculante, e as regras que estabeleceu eram obedecidas por seus subordinados. Isto não quer dizer que os prisioneiros não sofreram violência, mas esta não pode ser classificada de arbitrária porque era precisamente isto que Eicke buscou evitar. 

Outro artigo altamente problemático é o do acadêmico Isaac Lubelsky, sobre racismo e melhoria racial na Alemanha nazista. Lubelsky começa com uma pesquisa apressada e desatenta sobre o desenvolvimento do conceito de Darwinismo Social no século 19 e sua influência no modo de pensar de Hitler. Ele então propõe que a ideia evolucionária, que vê uma conexão entre a existência ambiental de um grupo humano específico e seu desenvolvimento mental, cognitivo e fisiológico prevalecia não apenas entre pensadores e cientistas durante a era do racismo no século 20, mas era aceita também por muitas pessoas de boa índole que não podiam ser suspeitas de abrigar tendências racistas. Por exemplo, o poeta Saul Tchernichovsky, que escreveu que o "homem é moldado pela paisagem de sua terra natal". 

De fato, se adotarmos a interpretação dada a essa obra poética pelo acadêmico de literatura Dan Miron, o que ocorre é exatamente o oposto. A ideia aqui, explica Miron, é que o homem é feito segundo um certo modelo, esquema , paradigma que supõe uma dimensão concreta no molde da paisagem de sua terra natal. Em outras palavras, as matérias de que uma pessoa é feita criam o molde ou modelagem da paisagem de sua terra natal -- e não o contrário. A influência do Darwinismo Social aqui não é prontamente visível. 

Esses são apenas uns poucos exemplos dos problemas que marcam esse livro. Grupos importantes de vítimas estão nele completamente ausentes. Entre eles estão os prisioneiros de guerra soviéticos, o segundo maior grupo de vítimas (mais de três milhões) aniquiladas pelos nazistas. Também ausentes estão os poloneses, que sofreram um violento ataque combinado de limpeza étnica e assassinato em massa. 

Em resumo, o livro se constitui em uma oportunidade perdida. Uma coleção séria de artigos em hebraico sobre vítimas não-judaicas do genocídio nazista seria de enorme importância. Se essa tentativa inicial infeliz estimular a publicação de um livro desse  tipo, o livro de Auron e Zaibert terá atingido seu objetivo. 


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Líbia: mais um desastre subsequente a uma intervenção militar americana

Muito recentemente, o presidente Obama causou uma comoção diplomática com dois parceiros militares tradicionais dos EUA, França e Reino Unido, ao referir-se depreciativamente e sem rodeios à participação dos dois na intervenção militar na Líbia em 2011, capitaneada pelos americanos via OTAN. A imprensa americana, obviamente, foi mais autêntica que a brasileira ao reproduzir a fala de Obama. Segundo o site da revista The Atlantic, que entrevistou o presidente americano, Obama disse que a falta de concentração da Europa gerou o caos que ocorre na Líbia (como sempre, zero de mea culpa do lado americano).

Obama disse que o primeiro-ministro David Cameron (Reino Unido) "distraiu-se com um monte de outras coisas após a operação" e parou de prestar atenção na Líbia.  Cameron e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy receberam a carga maior das críticas do presidente americano.

Com relação à França, Obama disse que "Sarkozy queria trombetear os voos que a França vinha fazendo na operação aérea, apesar do fato de que nós [americanos] tínhamos destruído todas as defesas aéreas líbias e, essencialmente, criado toda a infraestrutura necessária para a operação".

Embora considere que a intervenção tenha sido bem feita como poderia, Obama vê a Líbia hoje como uma "bagunça". Este é o termo diplomático, reservadamente, diz a revista (The Atlantic) que o entrevistou, ele se refere a esse país problemático como um "show de merda". Ele considera que isso ocorreu por razões que se devem mais à passividade dos aliados dos EUA e ao obstinado poder do tribalismo do que à incompetência dos americanos.

Por mais que se esforce, Obama não conseguirá apagar ou minimizar mais um enorme fracasso político-estratégico americano a partir de mais uma intervenção militar (que, segundo Obama, custou US$ 1 bilhão -- muito barato em termos de operações militares, disse ele).

Em 27/02/2016, o site do jornal International New York Times publicou uma reportagem inusitadamente longa (a versão impressa saiu em 01 de março corrente) de Scott Shane e Jo Becker sobre o caos em que está mergulhada a Líbia. O subtítulo da reportagem diz que "a queda de Gaddafi deu razão a (Hillary) Clinton inicialmente, até que a guerra civil e o Estado Islâmico se estabeleceram".

A reportagem descreve a impaciência de Hillary (então secretária de Estado) quanto à conclusão da intervenção militar multinacional, que lhe custara muito trabalho para organizar. Confirmada a queda de Gaddafi, ela teve seus momentos de glória e durante semanas foi exaustiva e abertamente louvada pelo Departamento de Estado.

Mas, assinala a reportagem, já havia sinais de que o triunfo teria vida curta e de que o vácuo deixado por Gaddafi era um convite para a violência e a divisão interna no país. Os líderes líbios interinos pareciam chocantemente desconectados, o assassinato de um destacado general rebelde reforçava o risco de "crimes por vingança", islamitas se apressavam para tomar o poder e havia uma indolente indiferença quanto ao desarmamento dos combatentes das milícias que haviam derrubado Gaddafi e agora ameaçavam a unidade do país (e eram financiados pelo Qatar).

Num encontro na Universidade de Trípoli, Harol Koh, o principal advogado do Departamento de Estado e membro da comitiva de Hillary, ouviu de um estudante: "Sabemos o que os EUA podem fazer com bombas. O que mais vocês podem fazer?".

A pressão da Líbia para eleições em julho de 2012, nove meses após a morte de Gaddafi, parecia prematura para alguns observadores.  Em janeiro de 2012 havia um inequívoco prenúncio de problemas. Em 5 de janeiro, Hillary recebeu um email de Sidney Blumenthal, seu velho amigo e assessor, detalhando o ambiente na Líbia: tensões entre islamitas e secularistas quanto ao papel da lei islâmica, combates entre milícias rivais associadas a duas cidades, e milicianos furiosos exigindo concessões.

Após a queda de Gaddafi, com um mínimo de violência e uma amistosa liderança líbia interina, a Líbia foi rapidamente retirada do topo da agenda da administração Obama. As reuniões regulares sobre a Líbia na 'sala da situação', que frequentemente incluíam Obama, foram interrompidas.  A revolta na Síria, no coração do Oriente Médio e com o quádruplo da população da Líbia, assumiu o centro do cenário. A Líbia, disse Dennis B. Ross, um veterano especialista em Oriente Médio no Conselho Nacional de Segurança (NSC, na sigla inglesa), "foi preparada para a atuação de terceiros em nível operacional". A desatenção com o país não era uma simples negligência, era uma política, uma estratégia.

"O presidente estava no clima de 'não iremos fazer um outro Iraque'", disse Derek Chollet, então responsável pela Líbia no NSC. "E, por falar nisso, os europeus estavam o tempo todo dizendo 'não, não, nós estamos fazendo isso. Entendemos a situação e acreditamos na Líbia, ela está na nossa vizinhança".

Então, o presidente e o NSC definiram o que um alto funcionário chamou de "limites severos" para o papel dos americanos na Líbia: os EUA ajudariam apenas quando pudesse oferecer algo único em termos de capacitação, o faria apenas quando a Líbia explicitamente requisitasse tais serviços e apenas quando a Líbia pagasse por isso com suas receitas do petróleo. Na prática, isso significava que os EUA fariam muito pouco.

Embora o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro britânico David Cameron tivessem visitado a Líbia juntos, eles também estariam logo com suas atenções desviadas do país devido uma campanha por reeleição (Sarkozy) e preocupações econômicas.

Com o passar dos meses e com as lutas entre facções piorando, Hillary pressionou para que seu governo fizesse mais pela Líbia, solicitando por exemplo ao Pentágono para ajudar no treinamento das forças de segurança líbias. Mas ela não logrou êxito, pelas restrições de Obama e a resistência dos líbios. Até mesmo propostas simples sucumbiram. Quando Hillary propôs o envio de um navio-hospital para tratar combatentes líbios feridos, o NSC rejeitou a ideia.

Em fevereiro de 2012, Andrew Shapiro, secretário de Estado assistente para assuntos político-militares, tentava explicar o que os EUA estavam fazendo para guardar com segurança o vasto arsenal militar que Gaddafi havia deixado para trás -- uma notável exceção à política de não-intervenção. Shapiro descreveu os esforços para "galvanizar uma resposta internacional" à tarefa de localizar e destruir depósitos de armas. Mas, reconheceu que o programa de US$ 40 milhões que Hillary havia anunciado para isso não ia bem, mesmo quando ele alcançou as armas mais preocupantes, os Manpads, disparadores de mísseis apoiados nos ombros dos combatentes e capazes de derrubar uma aeronave.

"Quantos Manpads estão ainda desaparecidos? A resposta franca é 'não sabemos' e provavelmente nunca saberemos", disse Shapiro. "Não podemos descartar a hipótese de que algumas armas saíram da Líbia".

Enquanto a CIA movia-se rapidamente para guardar com segurança as armas químicas de Gaddafi, outros esforços falharam. "Havia um arsenal que acreditávamos ter 20.000 Manpads, mísseis terra-ar, mísseis SA-7, que basicamente desapareceram na boca insaciável do Oriente Médio e do norte da África", lembrou Robert M. Gates, o secretário de defesa dos EUA na época.

O plano inicial americano de comprar de volta o armamento dos milicianos através do governo interino líbio, com a assistência americana, não funcionou por causa dos líbios. Assim, o Departamento de Estado, atuando junto com a CIA, ficou encarregado de negociar isso com as milícias. Mas, havia pouco incentivo para que os milicianos vendessem suas armas. Como observou o Sr. Shammam, ex-porta-voz do governo interino: "Como é que você vai comprar um Kalashnikov [o famoso fuzil russo AK-47] por US$ 1.000 se, com essa arma, alguém pode fazer US$ 1.000 por dia raptando pessoas?".

Pior ainda, o programa incentivou as milícias a importar armas para vendê-las aos americanos.

No círculo mais próximo de Hillary, a euforia sobre os feitos dela na Líbia deu lugar a uma "perturbadora preocupação de fracasso", disse um assessor sênior da secretária. Assim, quando os líbios foram às urnas em 7 de julho, numa eleição considerada limpa por observadores internacionais, houve uma sensação de alívio por parte de Hillary e outros defensores da intervenção militar na Líbia. "Agora começa realmente o trabalho duro para construir  um governo efetivo e transparente que unifique o país", disse Hillary.

Mas a unidade do país já era impossível. Nas palavras de Gérard Araud, embaixador da França nos EUA: "De certo modo, essa unidade estava perdida desde o início. Foi o mesmo erro que cometeram no Iraque. Você organiza eleições num país sem experiência com transigências ou partidos políticos. Então, você tem uma eleição e pensa que tudo está resolvido. Mas, no final as realidades tribais ressurgem para assombrar o país".

Em vez de dar prioridade à desmobilização das milícias, o governo de transição líbio simplesmente começou a pagar salários aos combatentes, o que muitos deles consideraram como um dinheiro de proteção. "Não lhes dê salários por nada", lembra-se de pedir o Sr. Sagezli, chefe da Comissão de Assuntos dos Combatentes. "Dar dinheiro a um comandante significa dar força às milícias, gerar mais lealdade ao comandante, gerar mais armamentos e mais corrupção. Mas os políticos nunca me ouviram". Em vez disso, "os políticos começaram a suborná-los, para comprar lealdade".

Haig Melkessetian, um ex-agente de inteligência americano cuja empresa fazia a segurança das embaixadas europeias na Líbia, descreveu as milícias como uma "anarquia -- não há outra palavra para elas". Assassinatos e "o pior tipo de vigilantismo (fazer justiça com as próprias mãos)" tornaram-se comuns na Líbia. Se havia alguma pressão por parte de autoridades americanas ou europeias para que o governo líbio suspendesse seus pagamentos às milícias, ela não se fez ouvir.

Autoridades da coalizão moderada que governava o país solicitaram aos EUA que impedissem a rica nação do Qatar de continuar enviando dinheiro e armas para as milícias alinhadas com o bloco político islamita da Líbia. A pressão contra o Qatar foi barrada dentro do Departamento de Estado e do Departamento de Defesa -- este último se opôs fortemente, porque havia uma história de 20 anos de estreita cooperação com o Qatar, que abriga bases americanas importantes. No final, não havia apetite para nada alem de uma diplomacia discreta.

Apenas no ano passado o presidente Obama repreendeu os países que estavam interferindo na Líbia, mas aí já era muito tarde. "Eles criaram os monstros com os quais lidamos hoje", disse o líder partidário líbio Abdallah, "que são essas milícias, que têm tanto poder que jamais se subordinarão a qualquer governo".

Em 8 de agosto de 2012, um mês após as eleições líbias, J. Christopher Stevens, embaixador americano na Líbia, enviou uma mensagem a Washington em que descrevia Bengasi (a segunda maior cidade líbia) como "oscilando entre a trepidação e a euforia, enquanto uma série de incidentes violentos tem dominado o cenário político", e alertou para a existência de um "vácuo de segurança". Stevens era considerado a autoridade americana que melhor conhecia a Líbia. Um mês depois do envio da mensagem, a missão dos EUA em Bengasi foi atacada e o embaixador Stevens foi um dos americanos mortos.

Se por um lado a tentativa de culpar Hillary pelo ataque em Bengasi certamente falharia, a noção de que a intervenção na Líbia se situava entre seus êxitos tornou-se solidamente mais desgastada. A Líbia não se adequaria às necessidades da política americana, quer como porrete quer como fanfarrice.

Quando Hillary deixou o Departamento de Estado em fevereiro de 2013, a guerra entre facções -- que se transformaria em guerra civil em 2014 -- estava num crescendo. O fluxo de refugiados que pagavam contrabandistas para uma viagem perigosa ao Mediterrâneo estava inchando. E o caos na Líbia daria nascimento a dois governos rivais -- um apoiado pelo Egito e os Emirados Árabes Unidos, e o outro com o suporte do Qatar, da Turquia e do Sudão -- provendo santuário para extremistas, aos quais logo se juntaram emissários do Estado Islâmico.

As armas que tornaram tão difícil estabilizar a Líbia estavam aparecendo na Síria, Tunísia, Argélia, Mali, Níger, Chad, Nigéria, Somália, Sudão, Egito e Gaza, frequentemente nas mãos de terroristas, insurgentes e criminosos. No outono de 2012, agências de inteligência americanas produziram uma avaliação confidencial da proliferação de armas provenientes da Líbia. Michael T. Flynn, então chefe da Agência de Inteligência de Defesa, disse: "não tínhamos esse tipo de proliferação de armamentos desde, na realidade, o fim da guerra do Vietnã".

Uma crítica cínica começou a circular em Washington: no Iraque, os EUA intervieram e ocuparam o país -- e as coisas foram para o inferno. Na Líbia, os EUA intervieram mas não ocuparam -- e as coisas foram para o inferno. E na Síria, os EUA não intervieram (?!) nem ocuparam, e ainda assim as coisas foram para o inferno.

Isso era humor negro, para desviar a culpa de estrategistas políticos americanos perplexos para uma região atribulada. Mas, gerou uma questão séria com relação à Líbia: se a derrubada de um ditador odiado em um país pequeno e relativamente rico acarretou problemas de tais magnitudes, a intervenção americana foi de algum modo justificada?

"É verdade que as coisas deram errado", disse Sagezli, da comissão de combatentes. "Mas do ponto de vista da Líbia, as coisas não podiam dar certo. Tivemos 42 anos de domínio de Gaddafi, sem infraestrutura, um terrível sistema educacional, milhares de prisioneiros políticos, divisões entre tribos, destruição do exército. Quando se tem um país como esse, depor o ditador equivale a liberar a pressão da panela fervente".

PS - Dessa história toda, digo eu e não as fontes que usei, fica mais uma vez patente a extrema incompetência dos EUA para avaliar a fundo, previamente, os países em que irá intervir e gerar uma perspectiva minimamente correta do que ocorrerá nesses países após essa intervenção. De quebra, ficou registrado que Hillary Clinton tem ainda muito que aprender em termos de geopolítica e Oriente Médio.


A ciência do prazer: porque gostamos do que gostamos

[Traduzo a seguir artigo do site BBC Mundo sobre o mecanismo do prazer.]

O artista simbolista austríaco Gustav Klimt era todo um mestre pintando o prazer, como demonstra o quadro Danae, de 1907 - (Foto: Creative Commons) - Ver  postagem anterior


3,4-dihidroxifenilalanina. É isto que está por trás do prazer. Uma substância química produzida pelas células nervosas do cérebro para enviar sinais às demais células. No entanto, não é tão simples ... nem tão complicado.

Nosso circuito do prazer pode ser acionado por algumas coisas óbvias e outras não tão óbvias. "Há algumas coisas de que gostamos porque estamos programados para gostar delas, como consumir alimentos, beber água e ter relações sexuais", explica à BBC David Linden, professor de Neurociência na Universidade John Hopkins, de Baltimore (EUA), e autor de um livro chamado  "O compasso do prazer". 

"Há outras coisas de que aprendemos a desfrutar. Por exemplo, enquanto estamos programados para que o que é doce nos agrade, as preferências pessoais estão determinadas mais que tudo pela experiência individual, a aprendizagem, a família, a cultura --todas as coisas que nos fazem indivíduos", diz Linden. 

Chocolate? Claro que sim! Mas lhe faltam alguns anos para ver se aguenta o  amargor de uma cerveja - (Foto: Pixabay)

"As pessoas gostam das coisas com que cresceram", acrescenta o especialista. "Por exemplo, vivo em Baltimore e aqui há gente que gosta de pimentas e outras não. Se vivesse no México, é muito provável que quase todas as pessoas que conhecesse gostariam de pimentas".

Acontece a mesma coisa com os animais? Os animais de estimação aprendem a desfrutar das coisas que comem seus donos, apesar de seus instintos? "Os gatos mexicanos desenvolvem o gosto por pimentas? Não, nunca. Isso é algo que os humanos podem fazer, mas os animais não, e não sabemos porquê". 

Nada de amargores

Seja porque seja, assinala Linden, estamos programados para não gostar do que é amargo. Na natureza, frequentemente as coisas amargas são tóxicas, assim pois você não deve comê-las, ou precisa  prepará-las com cuidado. "É por isso que, não raramente, uma criança -- que ainda não conhece muito de comida -- recusa as coisas amargas. À medida que crescemos, à medida que vamos aprendendo sobre o que devemos e não devemos comer, pode ser que nos agradem algumas coisas amargas", esclarece Linden. 

Ocasionalmente, a genética desempenha um papel em nossos gostos. Linden cita o exemplo do coentro. 

"O coentro é bom, mas nem tanto", dizem por aí - (Foto: Pixabay)

"Há quem o odeie, e há quem o adore. E agora sabemos que todos que o odeiam têm uma mutação em um receptor olfativo particular no nariz, que deteta um produto químico que é liberado quando se mastiga o coentro". 

Entretanto, isso não ocorre muito amiúde. Um estudo de irmãos gêmeos que cresceram em locais diferentes mostra que o grosso das preferências alimentícias é aprendido, e não herdado.

Coisas bonitas, belos sons

Samir Zeki ensina Neuroestética no University College, de Londres. Pesquisa a maneira pela qual a beleza nos dá prazer. "Me especializei no cérebro visual e nas respostas efetivas -- como desejo, amor, beleza --  que desencadeiam estímulos visuais", explica ele. 

Nem todos os prazeres nascem iguais, mas terminam sendo - (Foto: Pixabay)

"Quando se experimenta ou se vivencia uma beleza -- em uma paisagem, em uma peça musical, na matemática, em um rosto, em um corpo -- não importa de que forma, a mesma parte do cérebro emocional é acionada. É o centro do prazer no cérebro, e está associado à satisfação. E é que, se você considera que a beleza é prazer, é gratificante, é que isso faz parte do mesmo estado afetivo, da elevação ou grandeza do prazer, de satisfação, de recompensa". 

Mas, todos os prazeres são iguais? O prazer que nos dão as drogas, o sexo ou a comida, todos atuam da mesma forma no cérebro? 

"Uma das coisas que descobrimos é que, quando se trata de prazer, parece haver um santuário interno de regiões do cérebro que são unitárias", responde Morten Kringelbach, um neurocientista que  trabalha nas Universidades de Aarhus, na Dinamarca, e Oxford, no Reino Unido. "Para mim, isso isso é potencialmente muito interessante e surpreendente", opina ele e exemplifica: "Se se pensa no prazer que nos dá a comida, isso é sentido de maneira muito diferente  do prazer que nos é proporcionado pela música. Entretanto, todas as informações indicam que provavelmente não deveríamos nos guiarmos por nossas experiências: os sinais elétricos em zonas específicas do cérebro são os mesmos". 

Assim, aqueles ou aquelas que dizem que o chocolate é muito melhor que o sexo talvez estejam comendo um chocolate muito bom.  

Um, dois e três!

Como já antecipamos, no fundo de tudo isso existe algo com um nome muito longo:  3,4-dihidroxifenilalanina ou, se preferir, de maneira mais resumida, dopamina. 

Esta é uma  representação da essencial dopamina, que rege o nosso prazer - (Foto: SPL)

"Sabemos que a dopamina é crucial, que se você aumentar sua quantidade o prazer aumenta, e se você a retirar a capacidade de sentir prazer ficará bloqueada. E sabemos que ela atua em locais particulares do cérebro, que se forem destruídos você deixará de sentir prazer. O que ainda é um mistério é por quê a liberação de dopamina nessa parte do cérebro produz prazer", destaca Linden. 

Qualquer que seja a razão, o prazer chega em três fases de acordo com Kringelbach:
● primeiro vem o desejo: antecipação, anseio, ânsias;
● depois há  um período do gosto: desfruta-se da  comida, do vinho, do sexo, do filme, ou da metanfetamina;
● finalmente vem a saciedade: o período da satisfação.

Por que insistem em controlar nosso prazer?

Moça fumando maconha em frente à Corte Suprema do México, enquanto se discutia o tema da legalização da droga em novembro de 2015 -- ela foi aprovada para uso recreativo - (Foto: BBC Mundo)

As autoridades, assinala Linden, querem regular/regulamentar o  que fazemos, assinala Linden.   

"Estou falando de sexo e  drogas. Dizem: 'você não pode ter relações sexuais se não estiver casado' ou 'não pode pagar por elas' ou 'não pode ser homossexual'; e não pode consumir nenhuma droga que acione seu centro do prazer, seja ela nicotina, álcool, maconha, etc', enquanto outras pessoas dizem 'você pode beber bebida alcoólica, nada mais'. Nesse sentido, regular nosso circuito de prazer no cérebro é uma das grandes missões tanto de governos, como de religiões". 

A razão disso? "Creio que lhes preocupam muito nossos prazeres, porque são eles que regem nossa conduta. São muito fortes. Para essas instituições isso representa uma ameaça, pois as coisas que são altamente prazerosas podem alterar a ordem estabelecida". 

O prazer e  a dor

Alguns prazeres são óbvios e muito compartilhados: o chocolate ou Bach, uma cerveja ou um entardecer. Mas outros prazeres parecem estranhos. Um sádico tem prazer infligindo dor, um masoquista, sentindo-a. 

"Não há nada, biologicamente, por que há algumas pessoas que desenvolvem um gosto por certas práticas sexuais e outras não. Mas, sem dúvida existe sim algo a dizer sobre o pazer e a dor", diz Linden. "Ambos são indicadores de que algo é importante, significativo. Nos dizem: preste atenção a isso! Guarde-o em sua memória, porque é algo de que você precisará se lembrar mais adiante!". 

O prazer e a dor não fazem um par apenas na cama, mas também na comida - (Foto: Guiness World Records)

"É isso que o prazer e a  dor têm em comum. Assim, é possível que quando se mesclam, seja em uma prática sexual ou em um prato de comida com pimenta, há quem possa desfrutá-los porque lhe são supersignificativos e isso, por si só, é de alguma maneira gratificante", diz o neurocientista. 

Assim pois, o prazer está escrito na bioquímica do nosso cérebro. O que acontece é que às vezes, como disse o filósofo existencialista dinamarquês Soren Kierkegaard, "a maioria dos homens persegue  o prazer com tal açodamento que, na sua pressa, passa ao largo dele". 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A história do jogo do bicho

O brasileiro está longe de ter a mania de apostar dos ingleses, mas gosta de fazer sua fezinha. Os ingleses são imbatíveis quanto a isso. Londres está cheia de casas de apostas. Na região central da cidade, há mais de uma no mesmo quarteirão.  A maior de todas é a Ladbrokes, que funciona em Londres desde 1902. Hoje, já é sinônimo de casa de apostas no Reino Unido. São 1.600 lojas espalhadas por todo o país. Entrei numa delas.  Ela é dividida por setores – apostas em cavalos, em cachorros de corrida, automobilismo, futebol, nome de bebê da família real, etc.

Os britânicos têm no sangue o gosto por apostas. Há registros de corridas de cavalo na região desde meados do século 16. A tradição foi oficializada em 1776, com a primeira Saint Leger, a corrida de cavalos mais antiga do mundo. Em 1853, um decreto tornou ilegais as casas de apostas no Reino Unido. A lei, no entanto, não foi suficiente para desencorajar ingleses. Em 1902, Arthur Bendir fundou a Ladbrokes, casa de apostas especializada em esportes que logo cativou a elite britânica. Para despistar agentes da polícia, as apostas só podiam ser feitas em dinheiro vivo. Os estabelecimentos só voltaram a ser legalizados em 1961. 

No Brasil, há duas formas dominantes de apostas: os bolões e o jogo do bicho. Em termos de bolão, recentemente tivemos um exemplo de uso cretino dele através dos deputados Paulinho da Força (SP) e Carlos Manato (ES), que tiveram a ideia boçal de fazer um bolão entre os colegas sobre o placar da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara. Por essa atitude dá pra perceber o que de matéria fecal há nas cabeças desses dois idiotas e nas cabeças daqueles que participaram do bolão.

Tenho conhecidos que jogaram no bicho em relação ao resultado numérico da votação de ontem, o que acho também uma babaquice. Como o jogo do bicho é extremamente popular no Brasil, reproduzo a seguir a história do seu surgimento no país.  

Todo mundo conhece o Jogo do Bicho por nome, mas a maioria não tem nem ideia de como esse jogo surgiu. Confira, a seguir, um pouco da história do surgimento do Jogo do Bicho e uma lista com todos os animais que faz parte dele.
Confira na imagem abaixo a tabela de animais do Jogo do Bicho e seus números:
História do Jogo do Bicho
O Jogo do Bicho é considerado uma bolsa de apostas ilegal que tem como centro do jogo números que representam diversos animais. Foi inventado no ano de 1892 por João Batista Viana Drummond, um barão, que foi o fundador e proprietário do jardim zoológico do Rio de Janeiro em Vila Isabel.
A história do surgimento do Jogo do Bicho é a seguinte: houve uma grande crise no comércio nos primeiros anos da República do Brasil devido à especulação financeira intensa e jogatina na bolsa de valores. Assim, os comerciantes procuraram por uma solução que estimulasse as vendas, e foram instituídos sorteios de brindes.
O zoológico, por exemplo, não estava sendo mais tão frequentado devido à crise, e para que aumentasse a freqüência de visitas, o barão decidiu que cada bilhete teria a figura de um dos 25 animais do zoológico, e estipulou assim um prêmio em dinheiro para aquele que tivesse o bilhete de entrada com a figura do animal do dia. O animal que ficava coberto por um pano que só era retirado o final do dia. Só depois é que foram associadas aos animais as séries numéricas da loteria. Desde então, o jogo começou a ser praticado fora do zoológico largamente, transformando assim a capital da república, do ano de 1889 a 1960, na “capital do jogo do bicho”.

O Jogo do Bicho é um jogo tão único como democrático: não há uma aposta mínima, você pode apostar desde centavos a até milhares de reais, e em diferentes tipos de jogos.

Seus ganhos serão proporcionais ao dinheiro que apostou e ao estilo de aposta que você escolheu. A opção mais comum é apostar R$ 1,00 em um animal. Cada tipo de aposta obedece a proporções de ganho fixas, de acordo com a probabilidade de acerto, que podem variar de cidade em cidade. Por exemplo, no Rio de Janeiro, apostando em um animal na cabeça (1° prêmio) a proporção de ganho é de 1 para 18, ou seja, para cada Real apostado você ganha R$ 18,00 se seu animal for sorteado. Abaixo seguem os outros tipos de apostas mais comuns e seus ganhos em Reais para cada R$ 1,00 apostado, no Rio de Janeiro:
Milhar: R$ 4.000,00
Centena: R$ 600,00
Dezena: R$ 60,00
Terno de dezena: R$ 3.000,00
Duque de dezena: R$ 300,00
Terno de grupo 1/5: R$ 130,00
Dupla de grupo 1/5: R$ 19,00
Grupo: R$ 18,00
Passe: R$ 75,00

A terminologia acima já sinaliza que o jogo não é tão simples quanto parece. O cálculo das apostas é análise combinatória pura (matemática), e é surpreendente como os apontadores  -- gente simples, de baixa escolaridade -- aprende a fazê-lo com enorme rapidez.

Sorteios

Há no Jogo do Bicho 4 sorteios diários, de segunda a sábado e um sorteio aos domingos. Em cada um deles se sorteiam 5 números de 4 algarismos cada, ou "prêmios". Nos sábados e nas quarta-feiras o sorteio noturno é substituído pelo sorteio da Loteria Federal da Caixa. A partir dos 4 últimos números de cada um dos 5 prêmios da Loteria Federal do dia se obtém o resultado do Jogo do Bicho. Por exemplo, suponhamos que sejam os seguintes os resultados de um sorteio da Loteria -- os números em vermelho seriam os resultados do Jogo do Bicho:
1° - 17209
2° - 32259
3° - 55168
4° - 65397
5° - 81453

Para saber qual o bicho correspondente a cada um dos números, basta olhar os dois últimos números (dezenas) de cada um dos prêmios. Cada dezena pertence a um grupo de animal, e para identificá-lo basta conferir a tabela fornecida acima:
1° - 7209 -- Burro (grupo 03)
2° - 2259 -- Jacaré (grupo 15)
3° - 5168 -- Macaco (grupo 17)
4° - 5397 -- Vaca (grupo 25)
5° - 1453 -- Gato (grupo 14)

Para identificar as 4 dezenas de cada grupo, multiplique por 4 o número do grupo -- suas dezenas serão as 4 dezenas decrescentes a partir desse produto. Por exemplo: grupo 1 (Avestruz) - 4 x 1 = 4, as dezenas respectivas serão 04 - 03 - 02 - 01. Grupo 2 (Águia) - 4 x 2 = 8 , as dezenas respectivas são 08 - 07 - 06 - 05. E assim sucessivamente.

Há outros tipos de apostas mais complexas, que não cabe aqui explicar.

Uma característica marcante do Jogo do Bicho é o lendário "vale o que está escrito". O pedaço de papel com as anotações do apontador é sagrado, e o pagamento do prêmio da aposta, qualquer que seja seu valor, é efetuado mediante sua simples apresentação.