O site GunsAreCool traz uma impressionante lista de atentados e assassinatos em massa nos EUA somente em 2015. Tomando como definição que tiroteio contra grupos (mass shooting) é aquele em que quatro ou mais pessoas são baleadas em um evento ou série de eventos, geralmente sem intervalo de tempo, o site -- que fornece links para os crimes citados -- afirma que ocorreram até agora, no primeiro semestre de 2015, nada menos que 158 atentados a bala (quase um por dia) em solo americano, já incluindo o massacre de Charleston. Nesse total, em 56 casos não houve mortos, nos demais houve 208 óbitos (se não errei na soma). Em 2013 houve 365 crimes dessa natureza nos EUA, uma média de um por dia segundo o mesmo site.
O caso de Charleston é tristemente emblemático, porque envolve um jovem com evidentes problemas psicológicos de violência e racismo que recebeu do pai um revólver de grosso calibre como presente de aniversário. Não pode ser normal e psicologicamente saudável uma sociedade que admite como presente de aniversário uma arma letal, muito menos para um jovem de 21 anos.
Dylann Roof, o psicopata de 21 anos que matou a sangue frio 9 negros em uma igreja de Charleston, na Carolina do Sul, com uma arma que ganhou do pai em seu aniversário - (Foto: Reuters)
A revista inglesa The Economist publicou em 22/6 um interessante artigo sobre essa recorrência de assassinatos em massa nos EUA, com o título em que me baseei para esta postagem. É uma visão saxônica -- e talvez mais realista -- da questão. O autor comenta que o assassinato de 9 negros em uma igreja de Charleston fez ressurgir apelos para uma controle mais rígido de posse e porte de armas nos EUA. O crime trouxe à mesa também uma questão recorrente: por que os mass shootings são tão comuns nos EUA? Uma resposta popular é que simplesmente há armais demais no país, e é excessivamente fácil conseguir uma arma. Mas, o que se pode fazer quanto a isso? Infelizmente, não muito. Mas, por que não?
O autor cita Joseph Heath, um professor de filosofia na Universidade de Toronto que, segundo o autor, publicara na semana anterior uma profunda meditação sobre as maneiras pelas quais a ideologia pode distorcer tentativas sinceras para uma explicação sociocientífica. Heath não tem absolutamente nada a dizer sobre controle de armas, mas oferece uma série de discernimentos (insights) sobre as asneiras ou loucuras a que os especialistas são propensos ao tentar analisar problemas sociais. Em particular, Heath aponta para os riscos de se "desejar uma abordagem ou ferramenta estratégica/planejada" e "abordar apenas um lado de uma correlação", ambos os quais o autor do artigo considera que estão bastante em jogo no debate sobre a violência armada.
"Frequentemente quando estudamos problemas sociais", escreve Heath, "há uma tentação quase irresistível de estudar o que desejaríamos que fosse a causa desses problemas (por que razão seja), negligenciando as causas reais. Quando isso dá errado, você pode chegar ao fenômeno de explicações 'politicamente corretas' para vários problemas sociais".
A maioria dos acadêmicos prefere que a causa de um determinado problema social seja uma em relação à qual o governo possa fazer algo. O desejo por uma abordagem estratégica, como Heath a denomina, frequentemente faz com que acadêmicos ignorem ou não enfatizem causas igualmente prováveis que têm menos chance de sofrer uma intervenção estatal. Heath, ele mesmo um homem de esquerda, menciona que acadêmicos esquerdistas têm uma "tendência a superestimar os efeitos provocados pela desigualdade", porque a redistribuição de renda é algo que o governo pode fazer. Se a desigualdade causasse qualquer outra patologia social poderíamos, idealmente, consertar tudo isso com a redistribuição de renda.
Segundo o autor do artigo, pode-se ver o mesmo raciocínio sendo usado na resposta aos assassinatos em massa. Muitos de nós querem ver por trás desses massacres o controle frouxo das armas, porque controle de armas é uma política que podemos pressionar -- pelo menos em princípio. A falta de um controle de armas razoável, muitos de nós sentem, é o que deveria ser a causa do problema.
"Em algum momento, nós como nação teremos que levar em conta o fato de que esse tipo de violência em massa não ocorre em outros países avançados", comentou Obama em suas observações sobre os assassinatos em Charleston. "E temos o poder de fazer algo a esse respeito", continuou ele, mas então hesitou. "Digo que aceitar a política praticada nesta cidade exclui várias dessas possibilidades neste momento".
A falta de um controle de armas forte pode causar mass shootings frequentes. Mas, mass shootings frequentes podem igualmente provocar a falta de um controle de armas rígido? Certamente. Em resposta a crimes a mão armada apavorantes algumas pessoas podem querer comprar armas para se defender. Estas pessoas podem portanto achar que novas medidas para o controle de armas podem ameaçar sua segurança. Tente ver as coisas do ponto de vista delas. Agir inexperientemente nos limites das regras que regulam a compra legal de armas não pode mudar, nem mudará o fato de que muitos, muitos milhões de armas circulam por aí no país. Além disso, o tipo de pessoa que pode matar você não é o tipo de pessoa que se preocupa com a lei. Se não é possível desarmar as pessoas más, você pode sentir a necessidade de se armar. De acordo com esta linha de raciocínio, é perverso fazer a autodefesa armada mais difícil para as pessoas boas, aquelas que seguem as regras. Isso simplesmente as coloca em uma desvantagem estratégica contra as pessoas más, as que não cumprem as regras. Agora, se esse tipo de raciocínio for prevalecente -- e ele é bastante prevalecente nos EUA -- os mass shootings podem galvanizar a resistência contra novas restrições à posse de armas. Eles (os mass shootings) podem robustecer a visão de que as pessoas precisam se armar, como autodefesa.
O exposto acima gera uma possível história de "reforço mútuo". Suponhamos, como parece razoável, que restrições frouxas sobre o controle de armas sejam parcialmente responsáveis pelos frequentes massacres a mão armada (mass shootings) nos EUA. Então, seria o caso de que esses massacres criam resistência contra reformas que os reduziriam. Isso sugere que os EUA podem estar emperrados em um circuito fechado (loop) mais ou menos estável, no qual leis permissivas quanto à posse e ao porte de armas facilitam a ocorrência de massacres frequentes, que por sua vez reforçam a necessidade que se sente de preservar essas leis permissivas [visando a autodefesa], e assim sucessivamente.
O autor do artigo diz que não sabe se isso é verdade, mas suspeita que haja evidência quanto a isso. Se tantos americanos não se sentissem ameaçados pelas tendências de violência de seu país, seria menos provável que quisessem se armar em resposta a isso. Os dados a esse respeito são ambíguos. A taxa de mortes a bala diminuiu significativamente nos últimos vinte anos, mas as pessoas não parecem saber disso. A porcentagem de americanos que consideram que ter uma arma em casa os torna mais seguros (63%) duplicou desde 2000. Entretanto, essa mudança de atitude não parece estar registrada nas estatísticas de posse de arma, que têm sido muito estáveis nas duas últimas décadas. Ainda assim, os americanos parecem inusitadamente com mais tendência de montar um arsenal próprio em resposta à violência armada do que, digamos, se mostrarem determinados a coletar todas as armas e jogá-las no oceano. Por que?
Essa pergunta nos leva ao frustrante domínio das explicações culturais vagas. Tudo tem algo a ver com a violenta rebelião da fundação dos EUA, com a anarquia das fronteiras americanas, com a ameaça de nativos hostis e o medo de revoltas de escravos. Não sabemos porque a vontade de se armar persiste tão fortemente nos EUA, mas isso é um fato. Não sabemos porque a posse de arma se parece mais como um direito básico e precioso dos americanos do que ocorre com os cidadãos de outros países, mas isso é um fato. Não sabemos porque os americanos são tão obcecados com filmes, televisão e jogos que tratam do charme de matar pessoas (e animais, monstros, alienígenas e robôs) em massa com armas, mas eles são obcecados. E não sabemos porque a cada ano, ou mais ou menos isso, um homem americano jovem e branco agarra algumas armas e chacina um grupo de pessoas completamente inocentes, mas isso simplesmente continua acontecendo. Um controle melhor de armas poderia tornar mais difícil que armas chegassem às mãos desses psicopatas, mas como registrado acima e lamentado pelo presidente Obama, provavelmente o controle de armas não vai acontecer.
Para o autor do artigo, o fato de que seja improvável que um controle de armas adicional ganhe força política é muito mais significativo do que a mera prevalência ou facilidade da posse de arma nos EUA. O que realmente explica isso? O autor acha que as causas mais profundas das formas distintas de intransigência dos americanos sobre os direitos à posse de armas não recebem a atenção que merecem, por todas as razões mencionadas por Heath e descritas no início do artigo. Politicamente, isso não é conveniente para ninguém.
É tentador culpar a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla inglesa) de obstruir a reforma da legislação [de controle de armas]. Mas a NRA e seu poder não são uma força externa na política americana, que interfere no fluxo tranquilo da vontade democrática. A NRA não é um projeto favorito de um bilionário fanático, obcecado com os direitos relativos a armas. Ela é um sintoma orgânico de um aspecto amplamente difundido e profundamente arraigado do caráter americano. Uma América que abraça medidas de controle rígido de armas é uma América na qual massacres a mão armada são muito menos comuns. Mas, aqui, é fácil ser simplista sobre causa e efeito, da maneira contra a qual Heath alerta. Os direitos permissivos dos americanos quanto à posse de armas possibilitam mas não exatamente causam os massacres a bala. Pode ser mais próximo da verdade dizer que as causas culturais dos massacres a bala, quaisquer que elas possam ser, provocam também uma veemente resistência contra medidas mais restritivas no controle de armas.
Advogados de um controle de armas mais rígido não querem ouvir que não tem uma chance séria para qualquer coisa além de uma reforma superficial, até que algo profundo na psique americana seja antes diagnosticado e abordado. Mas tampouco a NRA quer ouvir que seu peso político é uma manifestação da mesma síndrome cultural que dá origem à patológica violência armada dos EUA. O autor do artigo acha que um abrandamento do grotesco temperamento de puxador alegre de gatilho dos EUA levaria à redução tanto dos massacres a bala quanto ao relaxamento do zelo pelo direitos a arma que impede que avancem regulamentações adicionais sobre aposse de armas. Mas, como?
O problema é que a fonte do problema dos EUA com a violência armada provavelmente não é o que os americanos, de direita ou esquerda, gostariam que fosse. Assim, não temos na realidade uma pista sobre como abordar a questão de uma maneira eficiente. Obviamente, isso é demasiado frustrante de se admitir. Assim, os americanos continuarão em sua maioria ignorando ou diagnosticando erroneamente o problema, prosseguirão pressionando fortemente em direções opostas estratégias ou ferramentas planejadas sobre o tema, e continuarão direto matando e morrendo.
O caráter belicista claro e inequívoco dos EUA -- digo eu e não o autor do artigo da The Economist -- é reiteradamente comprovado por sua autodesignação de xerifes do mundo, e pela onipresença militar americana nos quatro cantos do planeta. A história da anexação do Texas, da Califórnia e do Novo México aos EUA é outro exemplo desse caráter americano. Especialistas em produzir/conduzir (e/ou participar de) conflitos bélicos de todas as proporções em territórios alheios, os EUA se viram desnorteados com os incríveis e absurdos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em plena Nova Iorque. Desde então, o mundo paga por isso com a paranóia americana de considerar toda e qualquer pessoa como um perigo para a segurança dos EUA, a menos que eles, os próprios americanos, decidam o contrário.
O autor cita Joseph Heath, um professor de filosofia na Universidade de Toronto que, segundo o autor, publicara na semana anterior uma profunda meditação sobre as maneiras pelas quais a ideologia pode distorcer tentativas sinceras para uma explicação sociocientífica. Heath não tem absolutamente nada a dizer sobre controle de armas, mas oferece uma série de discernimentos (insights) sobre as asneiras ou loucuras a que os especialistas são propensos ao tentar analisar problemas sociais. Em particular, Heath aponta para os riscos de se "desejar uma abordagem ou ferramenta estratégica/planejada" e "abordar apenas um lado de uma correlação", ambos os quais o autor do artigo considera que estão bastante em jogo no debate sobre a violência armada.
"Frequentemente quando estudamos problemas sociais", escreve Heath, "há uma tentação quase irresistível de estudar o que desejaríamos que fosse a causa desses problemas (por que razão seja), negligenciando as causas reais. Quando isso dá errado, você pode chegar ao fenômeno de explicações 'politicamente corretas' para vários problemas sociais".
A maioria dos acadêmicos prefere que a causa de um determinado problema social seja uma em relação à qual o governo possa fazer algo. O desejo por uma abordagem estratégica, como Heath a denomina, frequentemente faz com que acadêmicos ignorem ou não enfatizem causas igualmente prováveis que têm menos chance de sofrer uma intervenção estatal. Heath, ele mesmo um homem de esquerda, menciona que acadêmicos esquerdistas têm uma "tendência a superestimar os efeitos provocados pela desigualdade", porque a redistribuição de renda é algo que o governo pode fazer. Se a desigualdade causasse qualquer outra patologia social poderíamos, idealmente, consertar tudo isso com a redistribuição de renda.
Segundo o autor do artigo, pode-se ver o mesmo raciocínio sendo usado na resposta aos assassinatos em massa. Muitos de nós querem ver por trás desses massacres o controle frouxo das armas, porque controle de armas é uma política que podemos pressionar -- pelo menos em princípio. A falta de um controle de armas razoável, muitos de nós sentem, é o que deveria ser a causa do problema.
"Em algum momento, nós como nação teremos que levar em conta o fato de que esse tipo de violência em massa não ocorre em outros países avançados", comentou Obama em suas observações sobre os assassinatos em Charleston. "E temos o poder de fazer algo a esse respeito", continuou ele, mas então hesitou. "Digo que aceitar a política praticada nesta cidade exclui várias dessas possibilidades neste momento".
A falta de um controle de armas forte pode causar mass shootings frequentes. Mas, mass shootings frequentes podem igualmente provocar a falta de um controle de armas rígido? Certamente. Em resposta a crimes a mão armada apavorantes algumas pessoas podem querer comprar armas para se defender. Estas pessoas podem portanto achar que novas medidas para o controle de armas podem ameaçar sua segurança. Tente ver as coisas do ponto de vista delas. Agir inexperientemente nos limites das regras que regulam a compra legal de armas não pode mudar, nem mudará o fato de que muitos, muitos milhões de armas circulam por aí no país. Além disso, o tipo de pessoa que pode matar você não é o tipo de pessoa que se preocupa com a lei. Se não é possível desarmar as pessoas más, você pode sentir a necessidade de se armar. De acordo com esta linha de raciocínio, é perverso fazer a autodefesa armada mais difícil para as pessoas boas, aquelas que seguem as regras. Isso simplesmente as coloca em uma desvantagem estratégica contra as pessoas más, as que não cumprem as regras. Agora, se esse tipo de raciocínio for prevalecente -- e ele é bastante prevalecente nos EUA -- os mass shootings podem galvanizar a resistência contra novas restrições à posse de armas. Eles (os mass shootings) podem robustecer a visão de que as pessoas precisam se armar, como autodefesa.
O exposto acima gera uma possível história de "reforço mútuo". Suponhamos, como parece razoável, que restrições frouxas sobre o controle de armas sejam parcialmente responsáveis pelos frequentes massacres a mão armada (mass shootings) nos EUA. Então, seria o caso de que esses massacres criam resistência contra reformas que os reduziriam. Isso sugere que os EUA podem estar emperrados em um circuito fechado (loop) mais ou menos estável, no qual leis permissivas quanto à posse e ao porte de armas facilitam a ocorrência de massacres frequentes, que por sua vez reforçam a necessidade que se sente de preservar essas leis permissivas [visando a autodefesa], e assim sucessivamente.
O autor do artigo diz que não sabe se isso é verdade, mas suspeita que haja evidência quanto a isso. Se tantos americanos não se sentissem ameaçados pelas tendências de violência de seu país, seria menos provável que quisessem se armar em resposta a isso. Os dados a esse respeito são ambíguos. A taxa de mortes a bala diminuiu significativamente nos últimos vinte anos, mas as pessoas não parecem saber disso. A porcentagem de americanos que consideram que ter uma arma em casa os torna mais seguros (63%) duplicou desde 2000. Entretanto, essa mudança de atitude não parece estar registrada nas estatísticas de posse de arma, que têm sido muito estáveis nas duas últimas décadas. Ainda assim, os americanos parecem inusitadamente com mais tendência de montar um arsenal próprio em resposta à violência armada do que, digamos, se mostrarem determinados a coletar todas as armas e jogá-las no oceano. Por que?
Essa pergunta nos leva ao frustrante domínio das explicações culturais vagas. Tudo tem algo a ver com a violenta rebelião da fundação dos EUA, com a anarquia das fronteiras americanas, com a ameaça de nativos hostis e o medo de revoltas de escravos. Não sabemos porque a vontade de se armar persiste tão fortemente nos EUA, mas isso é um fato. Não sabemos porque a posse de arma se parece mais como um direito básico e precioso dos americanos do que ocorre com os cidadãos de outros países, mas isso é um fato. Não sabemos porque os americanos são tão obcecados com filmes, televisão e jogos que tratam do charme de matar pessoas (e animais, monstros, alienígenas e robôs) em massa com armas, mas eles são obcecados. E não sabemos porque a cada ano, ou mais ou menos isso, um homem americano jovem e branco agarra algumas armas e chacina um grupo de pessoas completamente inocentes, mas isso simplesmente continua acontecendo. Um controle melhor de armas poderia tornar mais difícil que armas chegassem às mãos desses psicopatas, mas como registrado acima e lamentado pelo presidente Obama, provavelmente o controle de armas não vai acontecer.
Para o autor do artigo, o fato de que seja improvável que um controle de armas adicional ganhe força política é muito mais significativo do que a mera prevalência ou facilidade da posse de arma nos EUA. O que realmente explica isso? O autor acha que as causas mais profundas das formas distintas de intransigência dos americanos sobre os direitos à posse de armas não recebem a atenção que merecem, por todas as razões mencionadas por Heath e descritas no início do artigo. Politicamente, isso não é conveniente para ninguém.
É tentador culpar a Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla inglesa) de obstruir a reforma da legislação [de controle de armas]. Mas a NRA e seu poder não são uma força externa na política americana, que interfere no fluxo tranquilo da vontade democrática. A NRA não é um projeto favorito de um bilionário fanático, obcecado com os direitos relativos a armas. Ela é um sintoma orgânico de um aspecto amplamente difundido e profundamente arraigado do caráter americano. Uma América que abraça medidas de controle rígido de armas é uma América na qual massacres a mão armada são muito menos comuns. Mas, aqui, é fácil ser simplista sobre causa e efeito, da maneira contra a qual Heath alerta. Os direitos permissivos dos americanos quanto à posse de armas possibilitam mas não exatamente causam os massacres a bala. Pode ser mais próximo da verdade dizer que as causas culturais dos massacres a bala, quaisquer que elas possam ser, provocam também uma veemente resistência contra medidas mais restritivas no controle de armas.
Advogados de um controle de armas mais rígido não querem ouvir que não tem uma chance séria para qualquer coisa além de uma reforma superficial, até que algo profundo na psique americana seja antes diagnosticado e abordado. Mas tampouco a NRA quer ouvir que seu peso político é uma manifestação da mesma síndrome cultural que dá origem à patológica violência armada dos EUA. O autor do artigo acha que um abrandamento do grotesco temperamento de puxador alegre de gatilho dos EUA levaria à redução tanto dos massacres a bala quanto ao relaxamento do zelo pelo direitos a arma que impede que avancem regulamentações adicionais sobre aposse de armas. Mas, como?
O problema é que a fonte do problema dos EUA com a violência armada provavelmente não é o que os americanos, de direita ou esquerda, gostariam que fosse. Assim, não temos na realidade uma pista sobre como abordar a questão de uma maneira eficiente. Obviamente, isso é demasiado frustrante de se admitir. Assim, os americanos continuarão em sua maioria ignorando ou diagnosticando erroneamente o problema, prosseguirão pressionando fortemente em direções opostas estratégias ou ferramentas planejadas sobre o tema, e continuarão direto matando e morrendo.
O caráter belicista claro e inequívoco dos EUA -- digo eu e não o autor do artigo da The Economist -- é reiteradamente comprovado por sua autodesignação de xerifes do mundo, e pela onipresença militar americana nos quatro cantos do planeta. A história da anexação do Texas, da Califórnia e do Novo México aos EUA é outro exemplo desse caráter americano. Especialistas em produzir/conduzir (e/ou participar de) conflitos bélicos de todas as proporções em territórios alheios, os EUA se viram desnorteados com os incríveis e absurdos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em plena Nova Iorque. Desde então, o mundo paga por isso com a paranóia americana de considerar toda e qualquer pessoa como um perigo para a segurança dos EUA, a menos que eles, os próprios americanos, decidam o contrário.