[Sob o título "FAQ: Setting the record straight" ("Perguntas frequentemente feitas: Botando os pingos nos 'is'", em tradução livre), a Fifa dá sua versão sobre detalhes da organização e realização da Copa que têm sido objeto de protestos e gerado enorme confusão no país. Divulgado na semana atrasada (15/6), o que nele a Fifa afirma deixa muito mal o governo Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) e o país. Um das afirmativas mais graves da Fifa é que, ao contrário do que o governo diz, ela não pediu isenção geral de impostos. Passada mais de uma semana, o governo da madame permanece em silêncio ensurdecedor, usando a velha prática petista de fingir-se de morto ou ficar com olhar de paisagem, na expectativa de que o malfeito caia no esquecimento. Estranhamente, a mídia também desprezou as informações da Fifa, cujo documento traduzo a seguir. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Perguntas frequentemente feitas: Botando os pingos nos 'is' -- Fifa
Até agora, a Copa do Mundo no Brasil custou US$ 15 bilhões. Os contribuintes têm pago a conta, a Fifa não gastou nada.
A Fifa cobriu todos os custos operacionais da Copa do Mundo no considerável valor de US$ 2 bilhões. Não utilizamos nenhum dinheiro público para isso, usando em vez disso apenas a receita gerada pela venda dos direitos de TV e de comercialização relativos à Copa do Mundo. Em termos de investimentos do país anfitrião, as cifras citadas incluem investimentos em infraestrutura que não são diretamente relacionados ao custo da Copa do Mundo, e alguns deles nem mesmo foram feitos para o evento. O país irá usufruir por muitos anos dos resultados dos investimentos feitos em redes viárias, aeroportos ou sistemas de telecomunicações, e assim sendo tais investimentos não são custos relacionados unicamente à Copa do Mundo.
O dinheiro investido em estádios faz falta agora nos orçamentos para educação e saúde.
A presidente Rousseff, falando duas semanas antes da Copa do Mundo, disse que os orçamentos governamentais para educação e saúde não serão afetados pelo financiamento do BNDES para os estádios (apenas 0,16% do PIB do país).
A Fifa determinou que o Brasil construísse 12 estádios.
A Fifa não exige que um país construa 12 estádios, nem como devam ser projetados. Há algumas diretrizes básicas a serem seguidas, de modo que os estádios satisfaçam as exigências e expectativas das equipes, dos agentes de segurança e da mídia mas, antes de tudo, cada país anfitrião tem que decidir se deseja utilizar oito, dez ou 12 estádios. O Brasil optou por 12. Cabe também a cada país anfitrião projetar seus estádios de tal maneira que possam ser usados de maneira sustentável no longo prazo. Só depois disso se verifica se não necessárias quaisquer modificações para o uso das instalações para a Copa do Mundo, com ambas as partes trabalhando em conjunto para encontrar a melhor solução possível.
[Pelo que diz a Fifa, a invenção de fazer 12 estádios suntuosos -- e nos locais escolhidos -- é porralouquice do governo Dilma NPS e não dela. Que atentem bem para isso os eleitores que votarão em outubro vindouro.]
Os ingressos são tão caros que a maioria dos brasileiros não pode pagá-los.
Em comparação com outros eventos de porte (Jogos Olímpicos, Fórmula 1, torneios de tênis, concertos populares, etc), há muitos ingressos baratos disponíveis para a Copa do Mundo. Para a fase de classificação (
group-stage matches), por exemplo, ingressos por até apenas US$ 15 foram postos à venda para os brasileiros. A Fifa doou também 100.000 ingressos para os operários que trabalharam na construção dos estádios, assim como para os socialmente desfavorecidos. Dos 11 milhões dos pedidos de ingressos, cerca de 70% foram feitos por brasileiros, e 58% dos 2,7 milhões de ingressos vendidos até o momento foram comprados também por brasileiros.
[As infos sobre os ingressos a 15 dólares e a doação de 100.000 ingressos são surpreendentes e deveriam ser confirmados pela CBF ou quem mais seja do lado brasileiro. Ver postagem anterior com preços de ingressos no site oficial da Fifa.]
A Fifa exige isenção total de impostos para seus patrocinadores, o que significa que o país anfitrião não lucra nada com o evento.
A Fifa
não faz exigências para que haja um isenção geral de impostos para patrocinadores e fornecedores, ou para quaisquer atividades comerciais no país anfitrião. Em vez disso, a Fifa demanda apenas facilidades nos procedimentos aduaneiros para alguns equipamentos que precisam ser importados para a organização da Copa do Mundo, e que não se encontram à venda no país anfitrião (por exemplo, importação de computadores a serem usados pela Fifa ou pelo Comitê Organizador Local), importação (e subsequente exportação) de placas eletrônicas de propaganda, importação de bolas pasra uso na Copa do Mundo
[o Brasil não é capaz de fabricá-las?!], e que serão usadas durante o evento e depois reexportadas ou doadas para uma instituição social ligada a esporte no país anfitrião. Todas essas isenções são comparáveis àquelas demandadas por organizadores de outros eventos esportivos ou culturais.
[Esta declaração da Fifa é seríssima, porque desmente frontalmente o governo Dilma NPS, que afirmou que concedeu isenção fiscal plena para a Fifa na Copa das Confederações em 2013 e para esta Copa do Mundo porque issa era uma "condição" pasra a realização desses eventos. Isso significou para o país a perda de mais de R$ 1 bilhão, só em impostos federais. É preciso exigir que o governo explique isso direitinho. Ver mais detalhes no site UOL.Copa. O TCU diz ainda que falta transparência nessa isenção fiscal à Fifa.]
Dos US$ 2 bilhões que a Fifa gasta com a Copa do Mundo, cerca de US$ 1 bilhão é gasto com serviços no Brasil -- em outras palavras, dinheiro que é injetado diretamente na economia brasileira. Embora a Fifa seja extremamente cautelosa com prognósticos econômicos, a Fundação de Pesquisa Econômica Brasileira avalia que a Copa gere uma receita adicional para a economia do país de US$ 27 bilhões.
[Não consegui identificar esta instituição; existe um site oficial do governo -- "Foundation Institute of Economic Research" -- para a Copa, mas nele não encontrei esse estudo citado pela Fifa. A agência de risco Moody's informou em março deste ano que a Copa teria efeito pouco duradouro sobre a economia brasileira. O Ipea, em seu site, diz que "para o crescimento do PIB, a Copa do Mundo deve ser jogo de zero a zero". Para o TCU essa receita seria de R$ 10 bilhões.]
A Fifa só pensa em ter lucro, não se preocupa com nada mais
A Fifa é uma associação de associações, com um objetivo não comercial e sem fins lucrativos, que utiliza recursos significativos na busca de seus objetivos estatutários, que incluem desenvolver o futebol ao redor do mundo, organizar suas próprias competições internacionais e elaborar cuidadosamente regulamentos para o esporte, garantindo ao mesmo tempo sua aplicação. Então, a pergunta é: o que a Fifa faz com os lucros da Copa do Mundo?
Em resumo, todas as 209 associações que compõem a Fifa se beneficiam na mesma proporção. Na realidade, a Fifa gasta US$ 550.000 no desenvolvimento do futebol ao redor do mundo -- todo santo dia. Além disso, gastamos cerca de US$ 2 milhões na organização de competições internacionais -- todo santo dia.
[Seria interessante ter acesso aos arquivos da Interpol sobre a Fifa e seus dirigentes, atuais e do passado ...].
A Fifa deixa o país anfitrião sozinho para enfrentar seus problemas sociais, econômicos e ecológicos
A Fifa está plenamente consciente -- e aceita isso integralmente -- de sua responsabilidade social como parte da Copa. Em
2006, a Copa do Mundo na Alemanha foi a primeira a ter um abrangente programa ambiental. Depois, em
2010, a Fifa lançou "Vencer na África com a África "("
Win in Africa with Africa"), uma iniciativa para o desenvolvimento de uma infraestrutura futebolística sustentável cobrindo o continente africano, a um custo de US$ 70 milhões. Além disso, US$ 12 milhões foram investidos em vários programas sociais e foi criado o Fundo de Legado da Copa do Mundo de 2010 (
2010 World Cup Legacy Trust) após o evento, com uma provisão adicional de US$ 100 milhões para promover o desenvolvimento social a longo prazo na África do Sul após a Copa e dar suporte a iniciativas que usem o futebol para impulsionar o desenvolvimento social. É justo dizer que a África do Sul ainda se beneficia de ter sediado a Copa do Mundo em 2010.
No que se refere à Copa do Mundo de
2014 no Brasil, a Fifa divulgou uma estratégia completa de sustentabilidade há quase dois anos atrás, com foco em estádios ecologicamente favoráveis, gestão de refugos, apoio comunitário, redução e compensação de emissões de CO₂, mudança climática e transferência de conhecimento.
[Por que esse trabalho não foi tornado público? Essa estratégia envolve apenas a Fifa, ou há exigência de contrapartida do nosso governo?] - A estratégia da Fifa é fundamentada em normas internacionais, como a ISO 26000 e a GRI - Global Reporting Initiative
[ver aqui], assim como na política de desenvolvimento do governo brasileiro. Uma vez mais, a Fifa está apoiando uma ampla gama de projetos sociais
[quais?], lançou uma iniciativa sobre saúde de âmbito nacional [qual?] e está organizando uma "Copa do Mundo Social", da qual participarão 32 organizações sociais em sua própria Copa do Mundo
[que diabo é isto?!].
Serão implementadas medidas adicionais nas áreas de saúde, infraestrutura e futebol feminino como parte do Fundo de Legado da Copa do Mundo de 2014.
[Quais são essas medidas?]
A Fifa considera que sua responsabilidade social é um fator crucial para sucesso sustentável de seus eventos, mas a Copa do Mundo somente pode ser usada como uma ferramenta ou como um catalisador para mudanças se todos nela envolvidos pressionarem numa mesma direção, como parte de uma estratégia global.
A Fifa é responsável por despejos forçados no Brasil
A Fifa nunca pediu tais despejos. A Fifa recebeu uma declaração por escrito do Governo Federal e das Cidades Anfitriãs explicitando que em nenhuma das12 construções ou reformas de estádios alguém teria que ser despejado ou removido.
[E aí, o governo realmente cumpriu isso?]
A Fifa expulsa vendedores ambulantes/camelôs para garantir a exclusividade de seus patrocinadores
Ao contrário, a Fifa trabalha duro para garantir que os camelôs façam parte da Copa do Mundo. No entanto, nas vizinhanças imediatas dos estádios, por razões de segurança, há uma área à qual apenas portadores de ingressos ou de credenciais podem ter acesso. Por conseguinte, com base na experiência adquirida na Copa do Mundo da África do Sul, a Fifa deixou assentado com as autoridades brasileiras e com as cidades anfitriãs (que, em última análise, são responsáveis pelas atividades comerciais em suas áreas), desde os primeiros entendimentos sobre o evento, que estabelecessem e implementassem programas especiais para aqueles comerciantes.
Na maioria das cidades anfitriãs, camelôs que já trabalhavam no entorno de estádios foram cadastrados e poderão, portanto, trabalhar perto dos estádios e das Fifa Fun Fests™ durante a Copa do Mundo. Os camelôs receberam também um treinamento especial, um uniforme e uma credencial que lhes permite vender produtos autorizados. Um exemplo: São Paulo, a cidade anfitriã do jogo de abertura, tem no momento um total de 600 camelôs cadastrados nas vizinhanças da Fifa Fan Fest™e da Arena São Paulo. Esse é um procedimento padrão que é necessário em grandes eventos, principalmente no interesse da segurança. Um processo semelhante de credenciamento foi posto em prática nos Jogos Olímpicos de Londres e de Vancouver, por exemplo. Isso ajuda também a evitar que produtos falsificados sejam vendidos, infringindo leis brasileiras e internacionais.